quarta-feira, outubro 11, 2006

Mágica no ar.

Se quisesse, eu poderia machucá-lo. Mas quero ajudar-lhe, ajudar a mim, buscar um conforto, alguma coisa aqui dentro que me ligue ao de fora sem exigir muito de mim. Queria dizer que está tudo bem, agitá-lo, acordá-lo, conversar. Mas isso não vai acontecer. Já pode ser tarde demais.
Eu estava disposto & aberto e nada aconteceu.
Eu me senti mal com tudo aquilo.
Confiança.
Eu nunca tive e é esse o meu problema. Falho sempre.
No entando, as soluções a todos esses meus dilemas parecem mais óbvias agora."Oh, talvez eu possa arrumar o cabelo. Talvez eu possa usar aquela camisa azul, com essa calça jeans escura, ficam bem hein?!"
Talvez eu devesse parar de ficar me desculpando toda hora. Eu sei que cada pessoa, particularmente e a sua maneira, necessita de amor. Talvez todos estejam assustados, mesmo os que posam um olhar sereno em você, talvez esses sejam os mais assustados.
Eu estou vivo e tenhocomigo alguma coisa viva pronta para doar, mas talvez essa coisa pronta que eu levo aqui dentro necessite de outra pessoa para então ela estar completa.
Existe isso?
Estou fazendo um esforço, estou dando o melhor de mim.
Ruim é quando a gente se sente socialmente inadequado. O olhar dos outros nos desintegram, é uma ofensa. Eu sou meio estúpido para essas coisas, mas é basicamente o que eu sinto sempre quando tento uma aproximação com um outro ser da minha espécie.
Eu estou ascendendo, crescendo, percebo em mim mudanças, é bacana isso.
Mas se eu posso dar uma conselho pra mim mesmo diria: "Não procure supor, e não pense que as pessoas aí vivendo têm respostas e sacam das coisas e você não".
Será o meu momento para o Amor. Tem alguma coisa no ar, posso sentir.
Todos somos estrelas, e sinto a sua quando brilha em mim.
Gosto de ti.

domingo, agosto 13, 2006

mamãe & eu.

charlie. diz:mãe, não sabe do Léo...
charlie. diz:me decepcionou.
charlie. diz:(cansei de me ver... licencinha...)
Você parou a exibição da imagem da webcam com Rubi..
Rubi. diz:o que houve?
Rubi. diz:além de ele ter mentido.
charlie. diz:nossa. agora foi profundamente.
charlie. diz:estou perdendo o respeito intelectual por ele também.
charlie. diz:acredita que está agora na onda do jesusinho?
Rubi. diz:o que houve?
charlie. diz:lê a bíblia.
charlie. diz:pede que eu leia.
Rubi. diz:hahahaha.
charlie. diz:fala do amor de deus.
charlie. diz:como assim porra: trocar maconha por jesusinho?
charlie. diz:é um homem muito pouco religioso não é?
Rubi. diz:a bíblia tem textos histórica e culturalmente interessantes.
Rubi. diz:alguns de beleza lírica.
Rubi. diz:ih, religião, não.
charlie. diz:acho que deve ser encarado como um registro antropológico antes de mais nada.
Rubi. diz:falo de enxergar lendas...boas histórias.
Rubi. diz:a cultura de um povo.
Rubi. diz:isso é a bíblia.
Rubi. diz:esse lance de religião é ignorância, né.
Rubi. diz:mas cada um com a sua muleta.
charlie. diz:e a gente com os tropeços de aleijado.
charlie. diz:eu super acho.
charlie. diz:mas nossa.
charlie. diz:não sei o que aconteceu.
Rubi. diz:eu prefiro o diazepam.
charlie. diz:falou que largou a filosofia alemã.
Rubi. diz:fale para ele tomar diazepam.
charlie. diz:não quer mais saber do Nietzsche.
charlie. diz:uma lástima.
charlie. diz:mas acho que ele se regenera.
Rubi. diz:foi muita luz.
Rubi. diz:muita luz às vezes cega.
Rubi. diz:e a realidade nua e crua pode ser tão chocante...
Rubi. diz:que o mais confortável e conveniente seja fechar os olhos...
Rubi. diz:e voltar a dormir.
charlie. diz:é.
charlie. diz:coitado.
charlie. diz:=~
charlie. diz:mas fala que está felizão.
charlie. diz:então acho que é válido.
charlie. diz:apesar de ilusório.
charlie. diz:uma realidade ilusória pode ser positiva vista por um aspecto mãe?
Rubi. diz:pode. a meu ver, diminui as chances de se desenvolver doenças por conta do estresse e dessa nossa habitual perturbação intelectual e existencial.
Rubi. diz:brincadeira. hahahaha.
Rubi. diz:talvez ele viva mais aliviado.
Rubi. diz:só isso.
charlie. diz:nossa. é bem essa náusea que o Sartre comenta sempre. mas a nossa tem um agravante né?
charlie. diz:além de existencial ela é física também - a náusea.
Rubi. diz:o câncer sempre será câncer. a doença virá, crendo ou não. a guerra, a miséria.
Rubi. diz:o que vai mudar é a maneira com a qual ele vai encarar.
Rubi. diz:mas no livro eu sinto praticamente uma náusea física, sabe?
Rubi. diz:aquele horror com que ele descreve.
charlie. diz:física mesmo?
charlie. diz:nossa, eu sinto mais existencial.
charlie. diz:vai ver com olhos de filosofinho.
charlie. diz:mãe.
Rubi. diz:o físico é a conseqüência.
Rubi. diz:na minha mente.
charlie. diz:devia ter me ORDENADO fazer esse curso antes.
Rubi. diz:às vezes não te embrulha o estômago?
charlie. diz:às vezes eu não suporto MESMO.
charlie. diz:não dá, eu fecho.
Rubi. diz:quando eu vejo a minha empregada ouvindo a oração na rádio de manhã eu sinto nojo.
Rubi. diz:é uma vontade de vomitar.
charlie. diz:umas duas vezes eu fechei o livro decidido que não continuaria...
Rubi. diz:tornou-se sensação física.
charlie. diz:O Muro eu não consegui terminar.
Rubi. diz:continue.
Rubi. diz:O Muro eu ainda não li. crê?
Rubi. diz:mas vou pegar na biblioteca do banco.
charlie. diz:eu te mandei um dos contos não é?
charlie. diz:vou te dar de presente.
Rubi. diz:continue os livros, o curso. depois você vê o que faz.
charlie. diz:algum dia chega na sua casa.
charlie. diz:=~
Rubi. diz:mas você já é outra pessoa depois que começou a estudar filosofia.
charlie. diz:é perceptível mãe?
Rubi. diz:sim.
charlie. diz:todos aqui em casa comentam isso.
Rubi. diz:principalmente no que diz respeito à religião.
charlie. diz:whwh
Rubi. diz:você ficou lúcido.
charlie. diz:lembra quando eu despedia de você porque ia para a igreja?
Rubi. diz:eu sabia que era uma questão de tempo.
charlie. diz:whwh
charlie. diz:sim, você me falou logo no começinho...
charlie. diz:de deus também.
charlie. diz:estou na fase que existindo ou não, pouco importa.
Rubi. diz:sim. para mim até hoje é assim.
Rubi. diz:porque a gente sabe que não muda.
charlie. diz:não muda.
Rubi. diz:e quando você falou do Leo...
Rubi. diz:é nesse momento que eu penso.
Rubi. diz:você pode criar essa muleta...
charlie. diz:eu fico triste vendo as pessoas tão sujeitas a isso, mãe. minha mãe aqui, meus irmãos... algumas pessoas próximas...
Rubi. diz:enquanto a cidade queima...
charlie. diz:acomodadas na idéia de deus.
Rubi. diz:os fiéis rezam fervorosamente e se deixam levar pelo fogo.
Rubi. diz:e as pessoas normais se salvam.
Rubi. diz:sim.
Rubi. diz:e sabe o que é pior?
Rubi. diz:não vão mudar.
Rubi. diz:é para raros.
Rubi. diz:os meus pais não vão mudar.
Rubi. diz:eu tenho A NÁUSEA quando a minha fala profere a palavra: deus.
Rubi. diz:"falta deus na sua vida"
Rubi. diz:hahahaha.
charlie. diz:hahaha
Rubi. diz:como se o tal do deus fosse me arranjar um trabalho.
Rubi. diz:e um namorado bem gostoso para eu foder dia e noite.
Rubi. diz:pelamor.
Rubi. diz:eu não mereço ouvir histórias de amiguinhos imaginários.
Rubi. diz:não tenho mais idade e nem paciência.
charlie. diz:daí temos a visão do homem só né? na sua colina, distante da multidão dos domingos.
charlie. diz:e essa idéia de "seleção" também me abobina.
Rubi. diz:o ser pensante.
Rubi. diz:não que eu me ache genial. longe disso.
Rubi. diz:mas eu tenho aquela perturbação.
charlie. diz:os homens nascem livres e separados por direito, pô!
Rubi. diz:há quem tenha e saiba seguir em frente, abrir caminhos...
charlie. diz:vêm ao mundo sós e, em todos os lugares estão em rebanho?
charlie. diz:não dá.
Rubi. diz:há quem tenha e se esconda.
Rubi. diz:hahahaha
Rubi. diz:o rebanho.
Rubi. diz:eu lembro do próprio Nietzsche falando em rebanho com o sentido mais pejorativo...
Rubi. diz:é coisa do homem fraco.
Rubi. diz:abrigar-se no rebanho.
Rubi. diz:seguir o rebanho.
Rubi. diz:não destoar do rebanho.
Rubi. diz:e falo em rebanho pensando no meu pai.
Rubi. diz:ele fala que eu tenho que aprender a ser como todo mundo.
Rubi. diz:como se isso fosse uma medalha e uma coroa de glória.
charlie. diz:minha liberdade é o greganismo deles. whwh
charlie. diz:o gosto pelo distanciamento e pela "fuga".
charlie. diz:o asco por pátrias, valores, religiões.
charlie. diz:o desafio, a ironia.
charlie. diz:a incredulidade social radical.
charlie. diz:a irresponsabilidade erigida em princípio.
charlie. diz:a arte de desagradar.
charlie. diz:o super-homem.
charlie. diz:=)
Rubi. diz:hahahaha
Rubi. diz:calma.
Rubi. diz:você precisa viver essa liberdade...
Rubi. diz:e compreender que você mesmo vai construir os próprios limites.
charlie. diz:responsavelmente né? não uma liberdade porra-louca.
Rubi. diz:mas aí eu falo de limites físicos, limites biológicos.
Rubi. diz:limites que você mesmo estabelecerá.
Rubi. diz:e não limites IMPOSTOS pela sociedade.
charlie. diz:e quer saber? super-homem ou não, prestigiado ou não, pouco importa.
Rubi. diz:é, responsavelmente no sentido de não se matar por aí.
Rubi. diz:de aproveitar até a última gota.
Rubi. diz:sabendo como pisar e onde pisar e até quando.
charlie. diz:sim.
charlie. diz:é bem isso.
charlie. diz:=~
Rubi. diz:quero calmantes.
charlie. diz:acho que já já vou me deitar.
charlie. diz:sou uma pessoa que preciso conhecer a última das solidões.
Rubi. diz:eu preciso conhecer o sono eterno.
charlie. diz:talvez seja isso, mãe.
charlie. diz:eu não sei o que é A Coisa, ainda.
charlie. diz:a última das solidões talvez seja o sono eterno.
charlie. diz:=~

segunda-feira, julho 17, 2006

4 de fevereiro.

Levei dois segundos para reconhecê-lo, mas o reconheci. Como o reconheci, eu não faço a menor idéia, talvez já trazia na memória como era o semblante, todas as definições. A postura era imóvel e rígida, toda feita de planos e ângulos, como uma estátua. Eu distraído, claro que não esperava. Olhei para o lado então o vi. Estava um pouco mudado, confesso. Maior em estatura, em definições humanas e masculinas, pêlos, músculos & face. Para além da fisionomia. O que poderia tê-lo modificado tanto? A vida, quem sabe. As paixões, projeções, as tentativas de amor, de comer, de escapas dos que exigem demais. Ele não tinha cara dos que estavam dispostos a ceder muito, sequer alguma coisa. Encerrava-se em si mesmo, era essa a impressão. De imediato, ao encontrá-lo, fui absorvido para o mais secreto Dele. E eu sei o quanto isso é perigoso, pois na realidade estarei lidando com o mais oculto em mim mesmo. Difícil. Permiti-me ser absorvido na esperança de aprender alguma coisa. Mas Ele demonstrava ser de um solo muito seco sem muitos vestígios e fósseis. Ah, mas logo encontrarei vestígios, porque, Ele não pode ser tão Ele mesmo. Ah, e foi no coração da cidade que o encontrei. Sentado em um banco, ou algo parecido. A perna direita inclinada sobre o banco, enquanto a esquerda era largada, suspensa, pelo ar mesmo. As duas mãos servindo de apoio para o corpo, quem sabe, cansado. Mas como o reconheci? Pelos olhos, talvez. Definitivamente eu não sei como soube que ali ele era Ele. Também não vou me retratar de nada. Talvez nem seja Ele. Pouco importa. Importa dizer que se tratava de um ser-vivo vivendo essa vida crepuscular que é como uma convalescença, se minhas lembranças são minhas, e que você saboreia perambulando por aí, depois do sol, sobre a superfície. Foi perambulando que o encontrei. O primeiro contato, aliás, foi perambulando pela minha vida online – sim porque posso me dar ao luxo de possuir duas vidas em uma única respiração. Mas não quero contar com essa justamente pela ausência do olhar, apesar da troca de palavras pelo meio que me permitia sentir-se vivo, então conto como primeiro encontro aquele mesmo da noite de fevereiro. Retomando então a narrativa do encontro, quando virei o rosto e o visualizei, ele me acenou com a mão e um sorrisinho retraído de canto de boca. Acenei com o dedo polegar querendo reafirmar com o gesto a minha virilidade masculina. Logo me encontrava em conflito. As pernas logo perderam a firmeza. Vieram o frio do suor & estômago, e me vi imerso no oceano do não-saber-o-que-dizer. Incrível como tudo de repente volta a rugir e tumultuar de novo. Estamos e nos encontramos perdidos em meio a cidades-satélites, lançados no caminho que precisamos engolir, açoitados pelas venturanças que é o viver, sempre nos perguntando se já não vivemos o suficiente, ou já mesmo não estamos mortos e não nos demos conta ainda – o que é pior -, se já não nascemos de novo... Como lidar com um outro é difícil. Enfim. Eu virei o rosto, então ele estava lá, talvez já me observando antes mesmo de eu ter ciência disso, talvez eu o tenha decepcionado com o meu andar “guenzo”, com os meus gestos intempestivos e sem pudor, com a minha alegria difícil, mas é uma alegria. Será se já o decepcionei antes mesmo de vê-lo? Muito possível, não é nada difícil, pelo contrário. Ele estava lá, com uma pose um tanto quanto espontânea, e se eu não visse que não existiam correntes, juraria pensar ele estar amarrado naquele bloco de mármore ou Deus sabe do que é constituído aquele material. A postura imóvel e rígida, o sorriso para dentro, o tempo, a distância que separava nossos corpos, o meu e o Dele, a distância para o deleite final, ou inicial, não-sei, o referencial era o que menos importava naquele momento. Ele estava de preto, se não me engano. Quanto à cor, pois a cor é um fator importante, eu prefiro negar a sua existência, tudo o que posso dizer era que predominava o preto. Das botas all-star ao pequeno fio de barba. Deveria simbolizar alguma coisa a escolha pelo preto. Poderia estar usando verde se a cor fosse mesmo sem importância, não? O preto seria uma espécie de luto? Seria a marca simbólica de uma vida na penumbra? Marcas de paixões? Ele tinha a cara de já ter sido marcado pelas paixões, pelas ações também, quem sabe, mas devia não mais sofrer e só estar usando o preto pela escolha sem culpa, sem responsabilidade de simbolizar nada: usou o preto por gostar e se identificar com o lado obtuso das cores, nenhuma razão há mais-além. Mas não sabia se estava sofrendo, em nada encontrava uma âncora para firmar terra no sim ou no não. Quanto ao diálogo produzido nesse primeiro momento não me recordo com precisão. Eu fiquei o tempo todo encostado no mármore enquanto ele continuava lá, com a perna direita firmada e a esquerda suspensa.; para maquiar o meu nervosismo acendi um cigarro, provando do meu pequeno veneno diário e rezando para que ele não percebesse o meu nervosismo. Três cliques e o cigarro acesso. Eu tenho dessas de rezar às vezes, quando me sinto encurralado. Não para algum deus, mas para mim mesmo, para que eu saiba lidar comigo mesmo. Para saber qual hora eu devo pedir licença e ir embora. Para saber qual hora ficar calado, ou falar menos, poucas palavras, o mínimo possível, reduzindo tudo a um balançar resignado de cabeça pelo sim, pelo não, pelo quem sabe. Aqui lembro que eu falei demais. Falei mais do que teria falado em uma semana, creio. Ele só confirmava com sorrisos e gestos positivos com a cabeça. Em nada nesse primeiro contato discordou de mim. Foi bem humano. Despedimo-nos com a promessa de um próximo encontro, para o dia posterior. Sentia-me aliviado e depois disso em um passo só, sem olhar pra trás, sem remorso e a uma pequena parcela de culpa: saí. Ele permaneceu lá sentado, agora as pernas cruzadas, no entanto ainda soltas no ar. Como algo que levita, enquanto eu me ligava ao solo cada vez mais Ele me dava a impressão de levitar. Depois fiquei pensando para qual direção teria ido o seu olhar. Será que me acompanhou até onde não pôde mais ver? Talvez tenha me acompanhado pelo espírito para o sempre, até hoje. E eu falo espírito para não me referir ao caráter corporal, porque essa coisa de corpo é para idiotas. Não, ele não deve ter me encarado. Deve sim ter encarado as pessoas numerosas pela rua com toda a longa noite diante delas. As portas fechadas das lojas vomitando o seu contingente. Então em casa eu concluí: ele vai acabar tropeçando em alguém que sofre com as mesmas necessidades. Então estará feliz. Dará alguns passos com este outro alguém, passos juntos, depois provavelmente se separarão, cada um se dizendo, talvez agora cada um se achando com direito a tudo. E quanto a mim, eu.

sábado, julho 08, 2006

típicos.

tem coisa mais irritante do que, no meio de um diálogo com qualquer sujeito, o dito-cujo vir com estória genérica de “as pessoas” – as pessoas não entendem. existe?! e uma outra que pergunta o nosso signo e faz uma cara enigmática de morango morfado? e a Dona Fulana na fila do mercado com vergonha de estar comprando apenas papel higiênico, mas sem o menor pudor absurdo de estar cantando Rebeldes? e a nova atendente da padaria, com aquele crachá mixuruca ilustrado com retrato 3x4 e o nome “Josenilda” ou “Cladeumira” querendo saber pela vigésima vez se o café é puro ou com leite? ai-ai, Fortaleza é droga pesada & gente, eu cada vez quero mais longe. Mais longe.
*
não consigo terminar o trabalho de metafísica. me falta inspiração. =~

segunda-feira, julho 03, 2006

diálogo a posteriori.

Como nascem as piadas filosóficas.
Minha frase era: Pressupostos ontológicos do modelo de convivência anarquista no paradigma emergente da ciência contemporânea.

Charlie. diz:
Marcelo, olha pra minha frase.
Marcelo diz:
hahahahahhahha
Charlie. diz:
se a gente trocar ciência, por futebol, aplica-se perfeitamente, né?
Marcelo diz:
até parece que tu entendeu! rsrsrs
Charlie. diz:
é!
Charlie. diz:
super metido!
Charlie. diz:
é coisa de quem estuda filosofia.
Charlie. diz:
a gente fica metido.
Charlie. diz:
já percebeu?
Charlie. diz:
hahaha
Marcelo diz:
hahahahaha
Marcelo diz:
é pq qd percebemos que ninguem entende o noss papo metafisico ontologico sobre a episteme dos raciocinios a posteriore aí ficamos assim
Charlie. diz:
hahaha
Charlie. diz:
meu sonho discutir essas coisas em Quixadá, com vocês.
Charlie. diz:
pra ver a cara das pessoas.
Marcelo diz:
hahahaha
Charlie. diz:
eu ia rachar o bico de rir.
Charlie. diz:
a gente falando mil coisas que nem a gente entende.
Marcelo diz:
todo mundo dopado falando isso! kkkkkkkkkk
Charlie. diz:
uma outra vertente da comunicação.
Charlie. diz:
não nos comunicamos para nos entendermos.
Charlie. diz:
nos comunicamos para complicarmo-nos.
Marcelo diz:
hehehhe
Charlie. diz:
=)
Marcelo diz:
isso é uma arte
Charlie. diz:
é.
Charlie. diz:
uma vertente da retórica!
Charlie. diz:
diga se não é!
Charlie. diz:
of course!
Charlie. diz:
e era o que o Parmênides fazia.
Charlie. diz:
certeza!
Marcelo diz:
yes
Charlie. diz:
e a gente tentando entender aqui...
Charlie. diz:
tenho certeza que nem ele sabe o que queria dizer.
Charlie. diz:
haha
Marcelo diz:
pq o ser do nao ser do diabo que o parta do ser é!
Marcelo diz:
e não pode deixar de ser!
Charlie. diz:
e não pode deixar de ser!
Charlie. diz:
meu deus!
Marcelo diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Charlie. diz:
hahahaha
Charlie. diz:
espera!
Charlie. diz:
vou colar isso no blog!
Marcelo diz:
as piadas filosoficas estão fluindo!

quinta-feira, junho 29, 2006

Que o deus não há de levar os nossos homens.

Vou envelhecendo precocemente, preso na jaula do tempo, prisão em casca, idéia alguma, o corpo apodrecendo vivo, as mãos tremendo, a fumaça pelo ar da sala em penumbra, o teu olhar frio para as minhas cicatrizes, o teu risinho sarcástico para o meu padecimento, a minha cabeça prestes a explodir, aquela lembrança dos teus doces lábios, agora amargos, do vento frio até a espinha, o teu coração palpitando vindo até mim, carne a carne, pele a pele, pêlo a pêlo, formando um único corpo, e agora duas pedras, dois carvões, um longe do outro, cada qual com a suas marcas de vida, com as suas delícias, prazerzinhos ordinários corriqueiros, prelúdios da morte, sou o viver morrendo e tu não és mais capaz de me amar, tal qual fazias no passado, comias das minhas migalhas esparramadas por aí, colhias o alimento puro da minha boca, sorvias a minha doçura de mel, tecias a tua teia de areia insatisfeita. Agora tu me vomitas completamente e eu me esparramo pelo solo.
Por que estou assim, tão duro? Sabias que a verdade está escrita na parede? Textura de tinta velha, fendas, fissuras, os tijolos todos desmoronando em mim, e o poema pichado se desfazendo, aos poucos, tal qual o meu desejo de ainda estar vivo. A chuva fina borrou os traços de minha face, estou me tornando cada vez mais anônimo, cada vez pertenço menos. Vou me escondendo de ti e tu não tentas mais me encontrar.
Quando você falava, F, nas minhas costas - é claro -, acerca de bancar um "artista torturado", ou que suicídio seria aparecer demais, bem, o que não é aparecer? E se eu tivesse forças, já haveria arranjado uma belíssima morte para mim, sem muita dor, nem muito glamour, acho que morte tem que ter cara de morte mesmo, e quanto a ser um artista, acho que nem isso eu sei interpretar, o mundo está perdido, a roda gigante doida por aí, e eu mais doido ainda fora dela.
(suspiros)
(pânico)

quarta-feira, junho 07, 2006

E.

“(...)mas Adelina, você sabe tão bem quanto eu, talvez até melhor, a que ponto de desgaste nosso relacionamento chegou. Devia falar desse jeito mesmo com os alunos, impossível que você não perceba como é doloroso para mim mesmo encarar este rompimento. Afinal, a afeição que nutro por você é um fato.
Teria mesmo chegado ao ponto de dizer nutro? Teria, teria sim, teria dito nutro & relacionamento & rompimento & afeto, teria dito também estima & consideração & mais alto apreço e toda essa merda educada que as pessoas costumam dizer para colorir a indiferença quando o coração ficou inteiramente gelado”.
(Caio Fernando Abreu, Os Sapatinhos Vermelhos)
Então virou o rosto até mim e com aquela boca repleta de dentes, depois de regozijar-se todo – sim, pois, livrar-se de mim é um alívio que há tempos eu também necessito sentir -, pronunciou o “acabou”. Confesso que no íntimo e mais secreto eu sabia que aquilo não iria perdurar por muito. A gente sempre sente, não sente? Durou uma semana. O momento todo poderia ser condicionado em 24 horas. Ou um pouco mais. Incrível como até no amor devemos manter o bom-senso e saber medir as coisas. O amor quando grande demais, quando um não consegue mais viver sem pensar no outro, infelizmente esse amor não é mais aplicável. Nem justificável.
Entrei cabisbaixo no quarto, pequena morada do Menino. Tirei os chinelos, os objetos do bolso e esparramei tudo pelo chão simbolizando a minha vida perdida e ao léu, ofertada aos poucos por aí, espalhados com a minha pequena ira interna saliente. Olhou-me: precisamos conversar, decidido como quem deseja água acordando de madrugada com a boca seca. Seco estava eu por inteiro. Seco e oco. Sentamos um de frente para o outro, abraçamo-nos, pois era o que restava fazer naquela posição “flor-de-lótus”, encontrei no ombro dele o apoio para a minha cabeça confusa, onde a abandonei, enquanto os meus dedos finos deslizavam por seus cabelos-seda-árabe, preciosa. Não lembro se encontrou em mim esse apoio. Talvez sim, talvez não, talvez nunca. Ele precisa de um porto seguro, eu sou um barquinho de papel perdido em alto-mar.
E foi balbuciando palavras com o olhar fixo em mim. Eu estava desesperado. Para onde dirigir o olhar? E quanto às mãos? Meu deus o que fazer com as mãos? Ele ia falando, falando, querendo justificar o injustificável, não aplicado, em movimentos retrógrados de pensamento enquanto minha vida inteira era esse movimento retrógrado hiato. A vida, cada dia mais, Mais insuportável. Desejei tanto um cigarro! Provar do meu veneno diário e esquecer. Eu sabia que não iria me suportar, eu não levo paz para ninguém, dou sempre a mesma taça Faço com que digam: não é paz que eu tinha, agora é que eu necessito.
Enquanto vem - eu completamente despreparado -, aceitando tudo com uma resignação ofendida. Depois vai, e me encontro aqui, só, completamente só. Antes mais sozinho do que tenho estado.

sexta-feira, maio 19, 2006

Os Dragões Não Conhecem o Paraíso.

"(...) Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte. Dunas, geleiras, estepes. Nunca mais reflexos esverdeados pelos cantos, nem perfume de ervas pelo ar, nunca mais fumaças coloridas ou formas como serpentes espreitando pelas frestas de portas entreabertas. Mais triste: nunca mais nenhuma vontade de ser feliz dentro da gente, mesmo que essa felicidade nos deixe com o coração disparado, mãos úmidas, olhos brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa. A não ser o belo, que é de ver, não de mastigar, e por isso mesmo também uma forma de desconforto. No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pantanal de antes, cheio de possibilidades – que não aconteciam, mas que importa? – a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada."
(C.F.)

terça-feira, maio 16, 2006

Há um mundo melhor, porém caríssimo.

http://www.sacks.com.br/site/produto.asp?id=2940
50ml.
é foda. usando todos os dias.
quanto tempo será que dura isso?
*
http://tratamento.sacks.com.br/site/produto.asp?id=525
a pele vira um diamante com esse.
as pessoas ricas gastam muito mesmo.
*
http://tratamento.sacks.com.br/site/produto.asp?id=2559
olha isso!
as coisas vão ficando piores, meu deus!
*
"Tratamento hidratante para o rosto muito rico, recomendado para peles sensíveis e muito secas. "
o rosto já tem que nascer rico. não é o meu caso.

doce ilusão.

(risos)

segunda-feira, maio 08, 2006

Sapatos de camurça.

Então chegará o dia em que me verei eternamente desligado de ti, então terás o direito de censurar-me por não ter te avisado quais eram os momentos decisivos em que sentia que ia fazer a teu respeito um desses juízos severos a que o amor não resiste por muito tempo, acaba sucumbindo. O que importa agora é deixar claro o quanto és uma criatura que se acha no último degrau do espírito, e mesmo do encanto, a desprezível criatura que não é capaz de renunciar a um prazer. Então, se fores isso, como será possível amar-te, pois não és mesmo uma pessoa, um ser definido, imperfeito, mas ao menos perfectível? És uma água informe que corre segundo a vertente que lhe oferecem, um peixe sem memória e sem reflexão que, enquanto viver só no aquário, se chocará cem vezes por dia contra o vidro, que continuará a julgar que é água.

domingo, maio 07, 2006

Carta anônima.

Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente mas penso tanto em você que na hora de dormir vezenquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos.

sábado, maio 06, 2006

Carta ao Zézim.

Porto, 22 de dezembro de 1979
Zézim,cheguei hoje de tardezinha da praia, fiquei lá uns cinco dias, completamente só (ótimo!), e encontrei tUa carta. Esses dias que tô aqui, dez, e já parece um mês, não paro de pensar em você. Tou preocupado, Zézim, e quero te falar disso. Fica quietO e ouve, ou lê, você deve estar cheio de vibrações adeliopradianas e, portantO, todo atento aos pequenos mistérios. É carta longa, vai te preparando, porque eu já me preparei por aqui com uma xícara de chá Mu, almofada sob a bunda e um maço de Galaxy, a decisão pseudo-inteligente.
Seguinte, das poucas linhas da tua carta, 12 frases terminam com ponto de interrogação. São, portanto, perguntas. Respondo a algumas. A solução, concordo, não está na temperança. Nunca esteve nem vai estar. Sempre achei que os dois tipos mais fascinantes de pessoas são as putas e os santos, e ambos são inteiramente destemperados, certo? Não há que abster-se: há que comer desse banquete. Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda”.
Mais: já pensei, sim, se Deus pifar. E pifará, pifará porque você diz ”Deus é minha última esperança". Zézim, eu te quero tanto, não me ache insuportavelmente pretensioso dizendo essas coisas, mas ocê parece cabeça-dura demais. Zézim, não há última esperança, a não ser a morte. Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tudo é maya / ilusão. Ou samsara / círculo vicioso.
Certo, eu li demais zen-budismo, eu fiz ioga demais, eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia, eu li demais Krishnamurti, sabia? E também Allan Watts, e D. T. Suzuki, e isso freqüentem ente parece um pouco ridículo às pessoas. Mas, dessas coisas, acho que tirei pra meu gasto pessoal pelo menos uma certa tranqüilidade.
Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tUdo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.
Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? DANEM-SE, demônios. Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.
Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.
É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na CultUra, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci / conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.
Zézim, remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. Sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. De repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente.
E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente.
Ou então vá fazer análise. Falo sério. Ou natação. Ou dança moderna. Ou macrobiótica radical. Qualquer coisa que te cuide da cabeça ou/ e do corpo e, ao mesmo tempo, te distraia dessa obsessão. Até que ela se resolva, no braço ou por si mesma, não importa. Só não quero te ver assim engasgado, meu amigo querido.
Pausa.
Quanto a mim, te falava desses dias na praia. Pois olha, acordava às seis, sete da manhã, ia pra praia, corria uns quatro quilômetros, fazia exercícios, lá pelas dez voltava, ia cozinhar meu arroz. Comia, descansava um pouco, depois sentava e escrevia. Ficava exausto. Fiquei exausto. Passei os dias falando sozinho, mergulhado num texto, consegui arrancá-lo. Era um farrapo que tinha me nascido em setembro, em Sampa. Aí nasceu, sem que eu planejasse. Estava pronto na minha cabeça. Chama-se Morangos mofados, vai levar uma epígrafe de Lennon & McCartney, tô aqui com a letra de Strawberry fields forever pra traduzir. Zézim, eu acho que tá tão bom. Fiquei completamente cego enquanto escrevia, a personagem (um publicitário, ex-hippie, que cisma que tem câncer na alma, ou uma lesão no cérebro provocada por excessos de drogas, em velhos carnavais, e o sintoma — real — é um persistente gosto de morangos mofados na boca) tomou o freio nos dentes e se recusou a morrer ou a enlouquecer no fim. Tem um fim lindo, positivo, alegre. Eu fiquei besta. O fim se meteu no texto e não admitiu que eu interferisse. Tão estranho. Às vezes penso que, quando escrevo, sou apenas um canal transmissor, digamos assim, entre duas coisas totalmente alheias a mim, não sei se você entende. Um canal transmissor com um certo poder, ou capacidade, seletivo, sei lá. Hoje pela manhã não fui à praia e dei o conto por concluído, já acho que na quarta versão. Mas vou deixá-lo dormir pelo menos um mês, aí releio — porque sempre posso estar enganado, e os meus olhos de agora serem incapazes de verem certas coisas.
Aí tomei notas, muitas notas, pra outras coisas. A cabeça ferve. Que bom, Zézim, que bom, a coisa não morreu, e é só isso que eu quero, vou pedir demissão de todos os empregos pela vida afora quando sentir que isso, a literatura, que é só o que tenho, estiver sendo ameaçada como estava, na Nova.
E li. Descobri que ADORO DALTON TREVISAN. Menino, fiquei dando gritos enquanto lia A faca no coração, tem uns contos incríveis, e tão absolutamente lapidados, reduzidos ao essencial cintilante, sobretudo um, chamado "Mulher em chamas". Li quase todo o Ivan Ângelo, também gosto muito, principalmente de O verdadeiro filho da puta, mas aí o conto-título começou a me dar sono e parei. Mas ele tem um texto, ah se tem. E como. Mas o melhor que li nesses dias não foi ficção. Foi um pequeno artigo de Nirlando Beirão na última IstoÉ (do dia 19 de dezembro, please, leia), chamado "O recomeço do sonho". Li várias vezes. Na primeira, chorei de pura emoção - porque ele reabilita todas as vivências que eu tive nesta década. Claro que ele fala de uma geração inteira, mas daí saquei, meu Deus, como sou típico, como sou estereótipo da minha geração. Termina com uma alegria total: reinstaurando o sonho. É lindo demais. É atrevido demais. É novo, sadio. Deu uma luz na minha cabeça, sabe quando a coisa te ilumina? Assim como se ele formulasse o que eu, confusamente, estava apenas tateando. Leia, me diga o que acha. Eu não me segurei e escrevi uma carta a ele dizendo isso. Não sou amigo dele, só conhecido, mas acho que a gente deve dizer.
Escrevendo, eu falo pra caralho, não é?
Aqui em casa tá bom. É sempre um grande astral, não adianta eu criticar. O astral ótimo deles independe da opinião que eu possa ter a respeito, não é fantástico? A casa tá meio em obras, Nair mandou construir uma espécie de jardim de inverno nos fundos, vai ligar com a sala. Hoje estava pUta porque o Felipe não vai mais fazer vestibular: foi reprovado novamente no 3º colegial. Minha irmã Cláudia ganhou uma Caloi 10 de Natal do noivo (Jorge, lembra?), e eu me apossei dela e hoje mesmo dei voltas incríveis pelo Menino Deus(?). Márcia tá bonita, mais adultinha, assim com um ar meio da Mila. Zaél cozinhando, hoje faz arroz com passas para o jantar.
Povos outros, nem vi. Soube que A comunidade está em cartaz ainda e tenho granas pra receber. Amanhã acho que vou lá.
Tô tão só, Zézim. Tão eu-eu-comigo, porque o meu eu com a família é meio de raspão. Tá bom assim, não tenho mais medo nenhum de nenhuma emoção ou fantasia minha, sabe como? Os dias de solidão total na praia foram principalmente sadios.
Ocê viu a Nova? Tá lá o seu Chico, tartamudeante, e uma foto muito engraçada de toda a redação — eu com cara de "não me comprometam, não tenho nada a ver com isso". Dê uma olhada. Falar nisso, Juan passou por aqui, eu tava na praia, falou com Nair por telefone, estava descendo de um ônibus e subindo noUtro. Deixou dito que volta dia três de janeiro ou fevereiro, Nair não lembra, pra ficar uns dias. Ficará? E nada acontecerá. Uma vez me disseram que eu jamais amaria dum jeito que "desse certo", caso contrário deixaria de escrever. Pode ser. Pequenas magias. Quando terminei Morangos mofados, escrevi embaixo, sem querer, "criação é coisa sagrada”. É mais ou menos o que diz o Chico no fim daquela matéria. É misterioso, sagrado, maravilhoso.
Zézim, me dê notícias, muitas, e rápido. Eu não pensei que ia sentir tanta falta docê. Não sei quanto tempo ainda fico, mas vou ficando. Quero escrever mais, voltar à praia, fazer os documentos todos. Até pensei: mais adiante, quando já estivesse chegando a hora de eu voltar, você não queria vir? A gente faria o mesmo esquema de novo, voltaríamos juntos. A família te ama perdidamente, hoje pintaram até uns salseirinhos rápidos porque todo mundo queria ler a matéria do Chico ao mesmo tempo.
Let me take you down
cause I’m going to strawberry fields
nothing is real, and nothing to get hung about
strawberry fields forever
strawberry fields forever
strawberry fields forever
Isso é o que te desejo na nova década. Zézim, vamos lá. Sem últimas esperanças. Temos esperanças novinhas em folha, todos os dias. E nenhuma, fora de viver cada vez mais plenamente, mais confortáveis dentro do que a gente, sem culpa, é. Let me take you: I’m going to strawberry fields.
Me conta da Adélia.E te cuida, por favor, te cuida bem. Qualquer poço mais escuro, disque 0512-33-41-97. Eu posso pelo menos ouvir. Não leve a mal alguma dureza dita. É porque te quero claro. Citando Arantes, pra terminar: "Eu quero te ver com saúde I sempre de bom humor I e de boa vontade".
Um beijo doCaio
PS — Abraço pro Nello. Pra Ana Matos, e Nino também.

sexta-feira, maio 05, 2006

A Lenda das Jaciras. (Psico-Antropologia Fake)

(por Caio Fernando Abreu)
Reza não muito antiga lenda que homossexuais masculinos de qualquer idade ou nação – além de bofe, bicha, tia ou denominação similar – dividem-se em quatro grupos distintos. Seriam na verdade, sempre segundo a lenda, quatro irmãos que atendem por nomes femininos. A saber, e essa ordem arbitrária não implica cronologia nem preferência: Jacira, Telma, Irma e Irene.
Para começo de conversa, vamos à mais popular delas: a Jacira. Suficientemente conhecida, seja pelo personagem Jaci (que no romance Onde Andará Dulce Veiga?, de minha autoria, em dias de arco-íris recebe uma Oxumaré de frente e transforma-se na devastadora Jacira) ou pelos louváveis esforços do jornalista Eduardo Logullo em divulgá-la através da coluna Joyce Pascowitch, na Folha de São Paulo.
Das quatro irmãs, Jacira é aquela que todo mundo sabe que é homossexual, e ela mesma – que refere-se a si própria, seja qual for seu nome, sempre no feminino – acha ótimo ser. A Jacira usa roupas e cores chamativas, fala alto em público, geralmente anda em grupos de amigos também jaciras como ela, todas exercendo o velho hábito de “fechar”. Como diria Antônio Bivar, é uma pintosa. Uma pintosa assumida, despudorada. Sempre foi bicha, adora ser bicha e, maniqueísta como ela só, continua achando que a humanidade divide-se entre bofes e bichas, categoria esta última na qual se inclui. Com orgulho. Superinformada, embora não leia muito (existem Jaciras nigrinhas,analfabetas), ela sempre sabe – de orelhada – tudo que está em cartaz na cidade. Fofocas que insinuam viperinas dubiedades sobre a sexualidade alheia. Ao entrar em qualquer ambiente, uma Jacira sempre é imediatamente notada. O que satisfaz seu principal objetivo na vida: aparecer.
Bem menos luminosa e sem graça que a Jacira é: a Telma. Seu nome provavelmente originou-se daquela versão que Ney Matogrosso cantava: “Telma eu não sou gay/ o que falam de mim são maldades”, algo assim. Ao contrário da Jacira, a Telma é infelicíssima. Ela bebe. Bebe para esquecer que poderia ser homossexual. O problema é que, exatamente quando bebe, mais exatamente ainda depois do terceiro ou quarto uísque, é que a Telma transforma-se em homo. Embriagada, Telma ataca. E dramaticamente na manhã seguinte não lembra de nada. Aquela Jane Fonda de The Morning After perde. Embora a Telma fique muito erotizada em estado etílico, ela sempre nega que é, e negará até a morte. A única solução para uma Telma empedernida seria a psicanálise (que ela, a mais doente, acha que não precisa) ou parar de beber. O que, por tabela, significaria também parar de trepar. Pobres Telmas – categoria da qual países como o Brasil (vide academias de ginástica, futebol, chopadas com o pessoal da repartição, etc.) está cheio.
Menos trágica, mas ainda mais complexa, é a terceira irmã: a Irma. As Irmas não são exatamente infelizes – pelo menos, não tanto quanto as Telmas --, embora bem menos felizes que as Jaciras – que aparentam ser e realmente são felicíssimas. Irma é aquela que todo mundo jura que é, incluindo a mãe, a irmã e a esposa (Irmas casam muito) – mas ela mesma não sabe que é. Não sabe ou finge que não. A Irma dá quase tanta pinta quanto a Jacira, adora todo o folclore gay, de Carmen Miranda a show de travesti, passando por concurso de miss, Mae West, leopardos, James Dean e Marilyn Monroe. Estranhamente não “faz”. Quando solteira ninguém de sexo algum poderá afirmar – muito menos provar – que já fez sexo com uma Irma. Ou se fez, não prestou muito, pois há quem diga que Irmas costumam ser mal-dotadas, impotentes, dessas assim. Pode ser. A verdade é, quando casadas, as esposas das Irmas raramente apresentam um ar satisfeito. Sexualmente satisfeito.
Irmas costumam ser afáveis – ao contrário das problemáticas Telmas, introvertidas e depressivas. Adoram Jaciras, apesar destas gostarem de chamá-las, sobretudo em público e aos gritos, de “queridaaaaaaaa”. É que toda Jacira sabe – ou supõe – que no fundo toda Irma é tão Jacira quanto ela. Mas como as Telmas, Irmas fogem de definições. E ao contrário das Telmas, muito pecadoras, podem até morrer sem se atreverem a provar os prazeres do – para citar uma Jacira clássica – amor que não ousa dizer seu próprio etc.
Inicialmente limitada a essas três, a lenda recentemente incluiu a existência de uma quarta irmã: a Irene. Tão assumida quanto a Jacira, ao contrário desta, a Irene não dá pinta. Ela é, sabe que é, mas não exibe nem constrange. Pode até usar brinquinho na orelha, dar alguma rabanada menos comedida, ou mesmo – de brincadeira – referir-se a si mesma ou uma amiga no feminino. Mas a Irene é tranqüila. Geralmente analisada, culta. Bom nível social, numa palavra – Irene parece serena em relação à própria sexualidade. Que é diversificada. Podem ter longos casos, morar junto, ou viverem certas idiossincrasias eróticas. Só gostarem de working class, por exemplo, ou de adolescentes, choferes de táxi ou estudantes de Física. Ou de Irenes como elas: são as Irenes lésbicas, bastante comuns e conhecidas, literalmente, como gays. Telmas e Irmas escondem tudo da família, vizinhos e colegas, embora a Irma não tenha nada a esconder. Jaciras não escondem coisa alguma, explicitérrimas. Irenes deixam no ar: se alguém perceber, que perceba. Educação é básico para elas. Serenamente educadas, pois, às vezes até casam. Com mulheres.
Entre as quatro, desgraçadamente as relações são turbulentas. Jaciras, por exemplo, adoram seduzir Telmas. Estas (quando sóbrias, claro) têm medo pânico de Jaciras. Irenes por sua vez, nutrem uma espécie de carinho apiedado pelas desventuradas Telmas – e isso pode até resultar numa ardente noite de paixão entre ambas. Da qual naturalmente a Telma jamais lembrará, embora tenha feito horrores. O grande risco que toda Irene corre é apaixonar-se por uma Telma: comerá o pão que o diabo amassou, até entrar noutra. Com a Irma, de quem Irene também gosta, o risco não é tão grave: Irenes sabem que com Irmas não rola. E pode assim transformar tudo numa aparentemente saudável “amizade viril”: as duas fingindo, para usar a terminologia antiga, que são bofes. Há quem creia. Jaciras não simpatizam muito com Irenes, acham-nas “metidas”. A recíproca também é verdadeira: Irenes acham Jaciras pintosas demais, apesar de divertidas, folclóricas. E inconvenientes. E com a imperdoável mania de roubar namorados alheios. Irenes adoram namorar, pegar na mão, ir ao cinema, comer pizza, fim de semana em Ilhabela, ver TV – tudo isso together. Já Telmas e Irenes, entre si, são hostis. Talvez uma tema o julgamento da outra, vai saber. Irmas, no entanto, podem ceder aos insistentes encantos das Jaciras. Existem mesmo certas Irmas que algumas Jaciras – para ódio das Irenes – juram já ter feito. Jaciras, por sua vez, não raramente invejam Irenes, que sempre aparentam certa prosperidade (ao contrário das Telmas), com um cotêzinho decadente). Irenes mais neuróticas gostariam, de vez em quando, de serem confundidas com Irmas. E Telmas costumam sentir cegos, súbitos impulsos de desvendar suas almas abissais para os ouvidos compreensivos e ombros amigos das Irenes. Na verdade, Telmas, Irenes e Jaciras invejam um pouco aquela impressão (nem sempre verdadeira) de pureza que toda Irma passa. Assim como se estivesse por fora de qualquer grupo de risco.
A propósito, já que abordamos esse desagradável tema: embora aparentem ser as mais perigosas, no que se refere a riscos, e apesar de promíscuas (a promiscuidade esta implícita na jacirice). Jaciras cuidam-se muito. Verdade que com camisinhas nacionais, daquelas que arrebentam na hora H, na primeira golfada.
Irenes sempre carregam na frasqueira sortido estoque de poderosas camisinhas estrangeiras, compradas em suas viagens. Com a idade se tornam um tanto maníacas com higiene, meio obcecadas com safe sex. Certas Irenes não fazem há anos, vivem em permanente estado de nervos.
Já as Irmas como não fazem, ou quando fazem é tão escondido que ninguém sabe dizer como fazem, não se preocupam com isso.
O problema, novamente, são as Telmas. Impulsivas e atormentadas, nunca estão prevenidas. Jamais podem prever quando passarão do quarto uísque ou da décima quinta cerveja, e isso normalmente acontece em horas que as farmácias estão fechadas. Telmas, portanto, não carregam camisinha. Sequer as têm no banheiro, tamanha a negação. Enlouquecidas na cama (uma Telma com tesão vale por cem Jaciras), Telmas fazem coisas que Madonna (ídolo das Jaciras) duvidaria. Essa representa outra secreta tortura mental das Telmas: como às vezes realmente não lembram do que fizeram (por lapso etílico), têm sempre rabo preso e um medonho medo de serem positivas.
Irmas sempre são negativas. Ou aparentam ser. Acontecem surpresas, pois ser Irma não significa necessariamente ser casta. Irenes via de regra lidam bem com um teste positivo: espiritualizam-se, viram vegetarianas, zen-budistas, fazem ioga, procuram o Santo Daime ou Thomas Green Morton. Lêem muito Louise Hay, e até se recusam a tomar AZT. Jaciras muitas vezes negam-se decididamente a fazer O Teste: têm uma certeza irracional de que daria positivo. O que nem sempre é verdade, visto que nada mais forte que santo de Jacira.
Vírus e suas saias-justas sem nesga à parte, na verdade a AIDS não mudou muito o comportamento das quatro. Elas são arquetípicas, atávicas, eternas.
Freud, por exemplo, na opinião geral era irmésima. Já Platão parece ter sido uma boa Irene. Ninguém colocaria em dúvida a jacirice de Oscar Wilde. Rimbaud, por sua vez, dá a impressão de ter começado como Jacira (quando chegou a Paris) para transformar-se – o que é raro – em Telma ( na Abissínia). Já Verlaine, teria sido uma Irma que se ajacirou.
Clássicas ou contemporâneas, nenhuma delas deve ser criticada por isso. À sua maneira, cada uma busca apenas essa coisa – o Amor: a Ancestral Sede Antropológica. O que pode acontecer (vide Rimbaud e Verlaine) são transmutações: Irenes que se ajaciram; Irmas (com tendência etílica) que viram Telmas; Telmas que – bem comidas – se irenizam ou mesmo ajaciram e etc. As mutações são tantas quanto as do I Ching. Há quem diga que essas novas têm até nome, como as Juremas (Jaciras que se tornam Irenes) ou Jandiras (Jaciras exacerbadas tipo Clóvis Bornay). Pode ser. Mas segundo nossos estudos, Jacira que é Jacira nasce Jacira, vive Jacira, morre Jacira. No fundo, achando o tempo todo que Telmas, Irmas e Irenes não passam de Jaciras tão loucas quanto elas. E talvez tenham razão.

quarta-feira, maio 03, 2006

2+2=5.

prova concreta de que o radiohead não erra. inclusive na matemática.
*medo*

*
Começamos com a seguinte igualdade, que é verdadeira: 16-36 = 25-45.
Somamos (81/4) nos dois lados, o que não altera a igualdade: 16-36+(81/4) = 25-45+(81/4).
Isso pode ser escrito da seguinte forma: (trinômio quadrado perfeito) (4-(9/2))2 = (5-(9/2))2. Tirando a raiz quadrada em ambos os lados temos: 4-(9/2) = 5-(9/2).
Somando (9/2) nos dois lados da igualdade temos: 4 = 5 .
Como 4=2+2 chegamos a seguinte conclusão: 2+2=5.

segunda-feira, maio 01, 2006

utilidade pública/pessoal.

Para clarear os dentes:
Escove com bicarbonato de sódio ( comprado na farmácia ) ou água oxigenada 10 volumes ( aquela para fazer curativo )
Você também pode amassar um morango e esfregar os dentes com este morango amassado.
Mas atenção, não o use seguidamente, pois gasta o esmalte dos dentes.
Faça 1 vez por mês.
Folhas de Goiabeira ou Sálvia – mastigue folhas de goiabeira ou de Sálvia ou esfregue-as diretamente nos dentes.
Bicarbonato de sódio – umedeça o bicarbonato com gotas de água. Depois, com um algodão ou com o dedo, esfregue-o nos dentes a noite após a última escovada. Não coma e nem lave a boca até o dia seguinte.
Para quem tem os dentes amarelados por nicotina – retire a parte mais espessa do leite de magnésia do frasco.
Esfregue nos dentes com o dedo ou algodão à noite quando for se deitar, após escovar os dentes. Não coma e nem lave mais os dentes até a manhã seguinte.
*
(risos)

domingo, abril 30, 2006

Não é nada.

Olha, pode ser até normal ficarmos perdidos quando nos deparamos com o mar de possibilidades que possuímos nisso que é a respiração-diária-necessária. Mas olha, nessas horas não é necessário que busque refúgio no desespero, na incerteza, insegurança e todas essas outras coisas. Não estou falando que isso não é importante, até é, visto em uma perspectiva, mas o que eu queria dizer era que ainda é possível fazer dessa existência algo que possa ser usado por aqui mesmo, ao teu próprio benefício. É difícil, mas não pense que para alguém é fácil, não é.
*
Certeza que não viria, que não me entregaria sua mão, que não era capaz que quebrar as mil portas que nos separam, que viria ao meu auxílio e me socorreria e tentava me demonstrar que também não sabe o caminho, mas que está aí, é o que nos resta não é?
*
Uma vez imaginei um velhinho, quais seriam suas perspectivas. O esquema de hoje é pensar nas probabilidades. Mas pouco, não pode pensar nisso muito senão enlouquece. Eu falo por experiência própria.
*
Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.

domingo, abril 09, 2006

Saudade.

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
(C.L.)

quarta-feira, março 29, 2006

(risos)

charlie diz:
Bel! a Raisa nem vai para Quixadá na semana santa.
charlie diz:
ela é muito chata né? =
Belchior diz:
é
Belchior diz:
muito
charlie diz:
é, agora só quer ser uma mulher do século XXI.
charlie diz:
freqüenta a academia e tudo o mais... whwh
Belchior diz:
Quem diria...!
*
(risos)

sábado, março 25, 2006

'Natureza Viva' C.F.A.


"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele(...)"

estatísticas.

* 70% dos suicídios ocorrem em decorrência de uma fase depressiva.
* Pessoas mais velhas se suicidam mais que as mais jovens.
* Quanto mais planejado, mais perigoso no sentido de haver novas tentativas, caso essa não dê certo.
* Tentativas em homens são quase sempre mais graves, mais brutais e mais bem sucedidas do que em mulheres.
* Qualquer distúrbio Neuropsiquiátrico mais Álcool aumenta o risco de suicídio.
* Qualquer distúrbio (Depressão, Ansiedade, Psicose, etc.) mais os seguintes fatores aumentam o risco: isolamento social, falta de amigos, não ser casado, não morar com uma outra pessoa, não ter filhos, não ser religioso.
* O provérbio "cão que ladra não morde" não existe em suicídio. Pelo contrário, 90% de quem tenta, avisou antes.
* Quem fez uma tentativa tem 30% a mais de chances de repetir do quem nunca tentou.
* Nos casos de Psicoses agudas com pensamentos suicidas, ou Depressões Delirantes com idéias de suicídio, caso não seja possível hospitalizar o paciente, se o medico disser que o Acompanhante tem que vigiar todo o tempo, isso quer dizer até mesmo quando estiver no banheiro. Quer dizer janelas trancadas, quer dizer todas as armas, venenos, comprimidos, facas, garfos, fios, etc. fora do alcance. Quer dizer que o Acompanhante tem que ser fisicamente mais forte que o paciente e quer dizer que se o Acompanhante tiver que ir ele mesmo ao banheiro, primeiro tem que chamar um substituto igualmente ágil e forte.Muitos jovens já perderam a vida numa distração de segundos do Acompanhante. A grande maioria desses jovens poderia estar viva, pois o tratamento desses quadros agudos traz resultados logo nos primeiros dias.

segunda-feira, março 20, 2006

swann.

devo dizer. ontem me tornei lenda viva das provas da cultura na ufc. por qual motivo? pergunte-me. tanta vergonha, tanto vexame que sequer coragem de escrever aqui o ocorrido eu tenho. foi engraçado, mas depois eu fiquei em graça. depois. quando estamos sozinhos com a nossa consciência.
*
ah, estou nas últimas 100 páginas do último volume de "em busca do tempo perdido" do proust. está tão difícil as últimas páginas... ele se desfazendo das personagens que acompanhamos desde a infância. saudades da vovó, do swann, de todos. aliás, charles swann foi um dos que eu mais gostei. eu chorei com o swann. e não pude deixar de rir quando ele disse que a odette nem se quer fazia o seu tipo. foi apaixonado por ela a vida toda... proust diz que essas mesmas são as mulheres perigosas - as que não fazem o nosso tipo. porque cria-se um vínculo sem medo e por costume... mas um vínculo praticamente eterno que e se encerra quando se tem o amor por inteiro.
*
aliás, o amor só funciona quando não se tem o objeto amado por inteiro.
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"Nada se compara à exaltação do melancólico crônico quando vem a alegria. Mas, antes de ter licença para chegar, a alegria deve fazer o cerco ao coração cansado. Me deixe entrar, ela geme, ela berra. O coração tem que ser forçado."- Susan Sontag

sexta-feira, março 17, 2006

Hulck, o cão obtuso. uma frustação. uma certeza.

Então eu chegava em casa e ele vinha me receber. Era um ritual diário sagrado, uma doação diária, mútua, entre o cão - de nome Hulck -, e eu. Nos entregávamos, nos doávamos como mãos se dão. Eu, que não tivera filhos e muito menos pessoas ao redor, só tinha o cão, enquanto ele que nunca se interessava por uma cadelinha de rua, só tinha a mim e nossa relação era de amor.Chegava de madrugada em casa, ele a minha espera, eu, ansioso por encontrá-lo, prendia-o na coleirinha então passeávamos, eu mostrava objetos, odores, flores, luas, poças de água, e ele me mostrava o quão bonito são os pequenos gestos diários que passa despercebido enquanto achamos que vivemos. doce ilusão, e o Hulck sabia bem o que isso significava. Nunca me abandonou. Era ele quem vinha ao meu encontro enquanto derramava o meu "Mar de Alice", enquanto ouvia canções ou via algum seriado americano bobo que adorava. Ou mesmo um filme, um gesto, uma poesia... Era o Hulck quem vinha ao meu auxílio e me tranquilizava com um olhar suave e sereno, como quem me entendia - e ele me entendia -, como quem sabe que dar-se às circustância é perigoso, que estar por fora da grande roda gigante também é perigoso. o Hulck sabia disso.Foi então que veio a doença, e o corpo fragilizado do meu amigo. Tentei remédio, leite, orações - sim, eu rezei, rezei para quer qualquer entidade superior salvasse meu filhote. E nada, ele até melhorava, mas não o suficiente...
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Ah, perdão. Não consigo terminar... =~ O final todos sabem, o cachorro veio a falecer. E sabe o mais incrível de tudo isso? Eu sentir tudo como se fosse comigo. Tenho dessas de fazer as dores dos outros sentimentos bem meus. Como é possível?
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E a Bíblia para o ponto final:
O amor é tão poderoso como a morte; e a paixão é tão forte como a sepultura. O amor e a paixão explodem em chamas e queimam como fogo furioso. Nenhuma quantidade de água pode apagar o amor, e nenhum rio pode afogá-lo. Se alguém quisesse comprar o amor e por ele oferecesse as suas riquezas, receberia somente o desprezo. (C.C., Bíblia)

sexta-feira, março 10, 2006

teste.

eu no mais profundo ócio, encarando a internet com uma dificuldade absurda, estando aqui com a cabeça ali, encontro esses testes que eu acho uma beleza de fazer. claro que é pura falta do que fazer, mas fazer o quê se você já faz parte do poço do poço.
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Que m�sica do los hermanos � voc�?
Trazido a voc� por Soul Fire

quinta-feira, março 09, 2006

um acidente.


uma pista, um veículo importado e um pobre animal de má sorte. foi então que o carro desgovernado cortou a avenida como um rastro de luz. e foi então que eu vi o probe animal naquele piso escuro de cidade grande. e foi então que fui tomado por um amor incondicional, e a única vontade era colocar o pobre animal nos braços e levar comigo, e tentar curá-lo de qualquer maneira. mas não foi possível. em segundinhos o pobre animal respirava o último suspiro. e agora, nesse instante, já, não consigo esquecer e cena.
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sabe que preciso arrumar um emprego? que aqui em casa não dá para viver mais sem trabalhar. esses anos passando e eu consequentemente ficando mais velho, vou ter que arrumar um trabalho senão sequer dinheiro para umas bisnaguinhas golden boys vou ter. pequenos prazeres que me dou ao luxo de vez em quando.
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e sim, eu quero voltar para o interior. é o meus mais secreto segredo. pelo menos era. ou não. ou sim. ou não. ou sim. ou não. ou sim...
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estou vendo se dá certo esse negócio de escrever com uma imagemzinha ilustrando. vi no blog de uma amiga e achei tão bonito. queria que ficasse bonito aqui também. embelezar minhas cela. mais ou menos isso.
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respirar sem estar devendo ao mundo esta pequena liberdade.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

60'.

só pode ser algo incerto mesmo para assegurar-me. para fazer com que eu pense: sim, as coisas vão passar como tudo passa nessa vida, não, esqueça, esqueça que o futuro não te reserva muitas expectativas. eu abri agora o bloco de notas - sim, porque o word consegue me irritar de tal maneira que só há tolerância quando estou a digitar as milhares de folhas dos trabalhos acadêmicos -, pensava em escrever com um eu lírico feminino. iria fabular uma historinha povoada na década de 60, onde uma jovem senhorita espera o senhorito na janela no lar.mas fica para outro dia. é bobinha mesmo, não espero muito dela.
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ah, nossa. a conexão necessária provém de onde mesmo? do hábito?
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hábito do inferno, viu.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

negação.

me nego. definitivamente me nego a ser mero instrumento de utilidade única para diversão. lógico que ninguém usa ninguém desta maneira, quer dizer, não alguém que ao menos sente pelo outro o mínimo de respeito possível. parece-me que gostas mesmo de ver restinhos de mim espalhados pelo chão, parece que é necessário que eu pene para que você respire aliviado denotando missão cumprida. e vai saber o que eu fiz para merecer as costas quando o que ofereço é amor. e você nem ninguém tem moral para dizer que isso não é amor, pode parecer que não mas sei sim o que isto significa. você foi um dos primeiros que me deu o exemplo que a verdade não precisa necessariamente ser dita para ser manifestada, podemos talvez colhê-la mais seguramente sem esperar tanto pelas palavras ou até mesmo sem levá-las em conta, em mil sinais exteriores. mas enquanto isso eu prossigo seco e em pé com as veias gritando, mesmo.
ah, que chatice. parece aqueles diarinhos de adolescente cagão.
raiva, viu.