sexta-feira, setembro 12, 2008

02.

Ele vinha de encontro a Ela e no olhar per passava desejo. Ela, meio enfurecida cruzou oceanos, destruiu muralhas... E àquela noite, encontrava-se trépida, inteira e uma chama. Os corpos se encontraram quando Mercúrio estava em Áries – talvez tudo isso tivesse uma explicação astrológica. Sim.

Depressa a boca encontrou a outra. Depressa a respiração foi pressentida mutuamente de uma certeza de todas as coisas. Depressa o membro enrijecia-se. Depressa a profecia estava concretizada.

*

Enfim. – Há várias espécies de cicuta, e geralmente o desatino encontra oportunidade de pôr nos lábios do espírito livre um cálice desse veneno – para “puni-lo”, como diz depois o mundo inteiro. O que fazem então as mulheres à sua volta? Elas gritam e se lamentam, perturbando talvez o descanso crepuscular do pensador: tal como fizeram na prisão de Atenas: “Ó Críton, manda alguém levar para fora essas mulheres!” – falou Sócrates enfim.
[NIETZSCHE, Friedrich. Humano, Demasiado Humano)

terça-feira, setembro 09, 2008

pontos de aniversário.

"(...) como uma novela sobre dois parceiros incompatíveis continuamente em guerra por um fiapo do território do outro, e que, no entanto, não conseguem superar sua fascinação fatal um pelo outro, e decidem, sempre uma vez mais, depois de dolorosa separação, restabelecer a relação?"
*
O sujeito burguês precisa de algum Outro para assegurar-se de que seus poderes e propriedades são mais que alucinógenos, que suas atividades têm sentido porque se desenvolvem num mundo objetivo compartilhado.
*
"Eu sei que eu sou livre porque eu me pego agindo dessa maneira com o canto dos olhos".

quinta-feira, agosto 28, 2008

o dia.


eu acho que uma lembrança legal que fica depois dos anos acadêmicos é aquele lance quando você descobre que estudar na biblioteca é uma coisa legal. assim, de alguma maneira ficar e almoçar no r.u. e depois ir para a biblioteca é uma tarefa produtiva. nem que seja para dormir, mas é. hehe
*
na volta eu estava com uma estória na cabeça meio ficção. uma literatura...

terça-feira, agosto 26, 2008

opa.


eu tenho um monte de coisa pra fazer.

retrato: peticov - magical mistery trip.

é bonito não é? queria saber se é real. é, não é?
whwh

sexta-feira, abril 25, 2008

m23:

a "in"-evolução vai passando por viés que muitas vezes não esperávamos. talvez seja uma maneira de caracterizar o "espanto" típico em contextos, por exemplo, do nascimento da filosofia na antiga Grécia. desde esse tempo até aqui têm surgido instantes conseqüentemente ímpares, e que se não estivermos abertos ao que está posto no mundo e ao mundo, podem muitas vezes passarem despercebidos.

é triste pensar assim.

o que fica é a incomensurável questão do humano.

sábado, março 15, 2008

da teoria possível do amor.

charlie diz:
você ama o amor enquanto possibilidade de amar.
charlie diz:
assim, você precisa de um objeto pra que torne aquele amor realidade.
charlie diz:
daí essa dependência.
charlie diz:
a verdade estaria na honestidade desse sentimento.

...

sábado, fevereiro 23, 2008

sobre os peixes que tenho.

*ouvindo belle and sebastian - dirty dream number two.

olhe, eu venho dizer que estou há alguns meses criando peixes em casa. começou com o meu irmão trazendo alguns filhotes de uma feira que tem em um bairro próximo, e o meu irmão veio com todo o aparato: aquário, plantas d'água, comidinha, pedrinhas... e os bichos. quando criança eu também já criei e na ocasião tinham sido anos incríveis, eu os adorava enfim. passamos a viver então polizitando alguns entes como convinha a nós o melhor. no entando, o que é possível de compreender com o passar dos tempos, meu irmão não estava mais muito se importando. e eu digo isso porque andei viajando e na volta sempre encontrava os peixes em maus tratos. daí que penso que dessa vez os aquários resolveram se vingar. por uma razão que ainda não descobri o quê, mas tenho uma teoria de que eles agora simplesmentes decidiram renegar a comida. andei percebendo que a "pêxa" beta que batizei como Adélia estava com isso e agora, agora de noite eu a encontrei morta no fundo da água.

domingo, novembro 11, 2007

quinze para as quatro.

Marcelo diz:
Amigo que felicidade em lhe encontrar em tal hora da madrugada =D
charlie. diz:
haha
charlie. diz:
onde é que tu tava, marcelo?
Marcelo diz:
eu tava aqui pelo montese
Marcelo diz:
andando de bar em bar
Marcelo diz:
aqui é tosco demais pra beber... os bares tudo fecham cedo
Marcelo diz:
Charlie eu to precisando colocar as coisas em pratos limpos...rsrs (pl)
Marcelo diz:
hoje eu consegui senti o cheiro e o gosto que fica na boca!
Marcelo diz:
é foda esse lance dos sentidos =D
charlie. diz:
tu cheirou, marcelo?
Marcelo diz:
não, to precisando cheirar =/
charlie. diz:
nem entendi esse lance dos sentidos, marcelo.
Marcelo diz:
os sentidos Charlie
Marcelo diz:
vim na boca um gosto bom
Marcelo diz:
vc sentir o cheiro de algo bom...rs
Marcelo diz:
eu ate consigo sentir a sensação da farofa.. mas por milesimos de segundo ^^
Marcelo diz:
so por causa da lembrança do cheiro ^^
charlie. diz:
hm.
Marcelo diz:
é uma coisa incrivi
charlie. diz:
marcelo, hoje aqui tá legalize.
charlie. diz:
eu já fumei muito.
Marcelo diz:
ai na tua casa?
charlie. diz:
sim.

sexta-feira, novembro 09, 2007

msn. desconhecida.

charlie. diz:
oi!
cenaria diz:
oi
charlie. diz:
fala comigo.
charlie. diz:
porque você usa esse nick?
charlie. diz:
de onde você é?
cenaria diz:
por que a pergunta?
charlie. diz:
pra gente se conhecer, meu bem.
charlie. diz:
eu sou de fortaleza. conhece?
cenaria diz:
pois nao estou enteressada
charlie. diz:
não fala assim comigo!
cenaria diz:
claro q sim
charlie. diz:
qual a sua idade?
charlie. diz:
eu tenho 23, e estudo.
charlie. diz:
você gosta de ler?
cenaria diz:
nao quero0 dizer
charlie. diz:
por favor.
charlie. diz:
seja boazinho comigo.
charlie. diz:
preciso tanto.
charlie. diz:
*boazinha.
cenaria diz:
nao insista
charlie. diz:
está bem.
charlie. diz:
você quer que eu vá embora?
cenaria diz:
tanto faz
charlie. diz:
então conversa comigo!
cenaria diz:
ta bom

terça-feira, outubro 16, 2007

cedão.

cedão eu acordei e fui passear pelo pólo. sentei numa pedra e vi um ataque predatório. uma ave de cor avermelhada pescava um peixão, foi de uma vez só e super rápido. dei um tempo, falei com a mari e depois fui embora.
*
quem tem ficha na biblioteca municipal?

sexta-feira, setembro 07, 2007

aniversário.

ontem eu fiz 23 anos. agradeço a todos que fizeram esse dia super feliz.
que venham outros e que seja doce.

sábado, setembro 01, 2007

Porque o amante quer ser amado?

Se o amor for pensado simplesmente como posse física do objeto amado pelo amante poderia ser, na maioria das vezes, facilmente satisfeito. Como exemplo claro disso me vem à cabeça Proust e o seu herói no momento importante da saga "Em busca do tempo perdido", em que ele instala sua amante em casa e pode vê-la e possuí-la sempre que quiser, colocando-a em total dependência material; no entanto ele não se livra da inquietação, encontrando-se imerso em preocupações. É por sua consciência que Albertine escapa de Marcel, mesmo ela estando ao seu lado, e é por isso que ele só se tranqüiliza contemplando-a dormindo.
Pergunto: Pode-se concluir que o amor deseja capturar essa consciência? Mas, porque o deseja? Porque o desejo?

domingo, abril 15, 2007

2007.

abandonado mesmo, né?
mas nada, nunca larga por completo, sempre resta um resquíciozinho (agoraficoemdúvidasselevaacentoounão), um flerpinha que teima em resurgir.
é o que algumas pessoas denominam: esperança.
*
tenho um trabalho para escrever amanhã sobre filosofia no brasil. cigarro na metade, 01:56AM - o relógio acabou de mudar quando olhei - e um silêncio cinza cinza.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Mágica no ar.

Se quisesse, eu poderia machucá-lo. Mas quero ajudar-lhe, ajudar a mim, buscar um conforto, alguma coisa aqui dentro que me ligue ao de fora sem exigir muito de mim. Queria dizer que está tudo bem, agitá-lo, acordá-lo, conversar. Mas isso não vai acontecer. Já pode ser tarde demais.
Eu estava disposto & aberto e nada aconteceu.
Eu me senti mal com tudo aquilo.
Confiança.
Eu nunca tive e é esse o meu problema. Falho sempre.
No entando, as soluções a todos esses meus dilemas parecem mais óbvias agora."Oh, talvez eu possa arrumar o cabelo. Talvez eu possa usar aquela camisa azul, com essa calça jeans escura, ficam bem hein?!"
Talvez eu devesse parar de ficar me desculpando toda hora. Eu sei que cada pessoa, particularmente e a sua maneira, necessita de amor. Talvez todos estejam assustados, mesmo os que posam um olhar sereno em você, talvez esses sejam os mais assustados.
Eu estou vivo e tenhocomigo alguma coisa viva pronta para doar, mas talvez essa coisa pronta que eu levo aqui dentro necessite de outra pessoa para então ela estar completa.
Existe isso?
Estou fazendo um esforço, estou dando o melhor de mim.
Ruim é quando a gente se sente socialmente inadequado. O olhar dos outros nos desintegram, é uma ofensa. Eu sou meio estúpido para essas coisas, mas é basicamente o que eu sinto sempre quando tento uma aproximação com um outro ser da minha espécie.
Eu estou ascendendo, crescendo, percebo em mim mudanças, é bacana isso.
Mas se eu posso dar uma conselho pra mim mesmo diria: "Não procure supor, e não pense que as pessoas aí vivendo têm respostas e sacam das coisas e você não".
Será o meu momento para o Amor. Tem alguma coisa no ar, posso sentir.
Todos somos estrelas, e sinto a sua quando brilha em mim.
Gosto de ti.

domingo, agosto 13, 2006

mamãe & eu.

charlie. diz:mãe, não sabe do Léo...
charlie. diz:me decepcionou.
charlie. diz:(cansei de me ver... licencinha...)
Você parou a exibição da imagem da webcam com Rubi..
Rubi. diz:o que houve?
Rubi. diz:além de ele ter mentido.
charlie. diz:nossa. agora foi profundamente.
charlie. diz:estou perdendo o respeito intelectual por ele também.
charlie. diz:acredita que está agora na onda do jesusinho?
Rubi. diz:o que houve?
charlie. diz:lê a bíblia.
charlie. diz:pede que eu leia.
Rubi. diz:hahahaha.
charlie. diz:fala do amor de deus.
charlie. diz:como assim porra: trocar maconha por jesusinho?
charlie. diz:é um homem muito pouco religioso não é?
Rubi. diz:a bíblia tem textos histórica e culturalmente interessantes.
Rubi. diz:alguns de beleza lírica.
Rubi. diz:ih, religião, não.
charlie. diz:acho que deve ser encarado como um registro antropológico antes de mais nada.
Rubi. diz:falo de enxergar lendas...boas histórias.
Rubi. diz:a cultura de um povo.
Rubi. diz:isso é a bíblia.
Rubi. diz:esse lance de religião é ignorância, né.
Rubi. diz:mas cada um com a sua muleta.
charlie. diz:e a gente com os tropeços de aleijado.
charlie. diz:eu super acho.
charlie. diz:mas nossa.
charlie. diz:não sei o que aconteceu.
Rubi. diz:eu prefiro o diazepam.
charlie. diz:falou que largou a filosofia alemã.
Rubi. diz:fale para ele tomar diazepam.
charlie. diz:não quer mais saber do Nietzsche.
charlie. diz:uma lástima.
charlie. diz:mas acho que ele se regenera.
Rubi. diz:foi muita luz.
Rubi. diz:muita luz às vezes cega.
Rubi. diz:e a realidade nua e crua pode ser tão chocante...
Rubi. diz:que o mais confortável e conveniente seja fechar os olhos...
Rubi. diz:e voltar a dormir.
charlie. diz:é.
charlie. diz:coitado.
charlie. diz:=~
charlie. diz:mas fala que está felizão.
charlie. diz:então acho que é válido.
charlie. diz:apesar de ilusório.
charlie. diz:uma realidade ilusória pode ser positiva vista por um aspecto mãe?
Rubi. diz:pode. a meu ver, diminui as chances de se desenvolver doenças por conta do estresse e dessa nossa habitual perturbação intelectual e existencial.
Rubi. diz:brincadeira. hahahaha.
Rubi. diz:talvez ele viva mais aliviado.
Rubi. diz:só isso.
charlie. diz:nossa. é bem essa náusea que o Sartre comenta sempre. mas a nossa tem um agravante né?
charlie. diz:além de existencial ela é física também - a náusea.
Rubi. diz:o câncer sempre será câncer. a doença virá, crendo ou não. a guerra, a miséria.
Rubi. diz:o que vai mudar é a maneira com a qual ele vai encarar.
Rubi. diz:mas no livro eu sinto praticamente uma náusea física, sabe?
Rubi. diz:aquele horror com que ele descreve.
charlie. diz:física mesmo?
charlie. diz:nossa, eu sinto mais existencial.
charlie. diz:vai ver com olhos de filosofinho.
charlie. diz:mãe.
Rubi. diz:o físico é a conseqüência.
Rubi. diz:na minha mente.
charlie. diz:devia ter me ORDENADO fazer esse curso antes.
Rubi. diz:às vezes não te embrulha o estômago?
charlie. diz:às vezes eu não suporto MESMO.
charlie. diz:não dá, eu fecho.
Rubi. diz:quando eu vejo a minha empregada ouvindo a oração na rádio de manhã eu sinto nojo.
Rubi. diz:é uma vontade de vomitar.
charlie. diz:umas duas vezes eu fechei o livro decidido que não continuaria...
Rubi. diz:tornou-se sensação física.
charlie. diz:O Muro eu não consegui terminar.
Rubi. diz:continue.
Rubi. diz:O Muro eu ainda não li. crê?
Rubi. diz:mas vou pegar na biblioteca do banco.
charlie. diz:eu te mandei um dos contos não é?
charlie. diz:vou te dar de presente.
Rubi. diz:continue os livros, o curso. depois você vê o que faz.
charlie. diz:algum dia chega na sua casa.
charlie. diz:=~
Rubi. diz:mas você já é outra pessoa depois que começou a estudar filosofia.
charlie. diz:é perceptível mãe?
Rubi. diz:sim.
charlie. diz:todos aqui em casa comentam isso.
Rubi. diz:principalmente no que diz respeito à religião.
charlie. diz:whwh
Rubi. diz:você ficou lúcido.
charlie. diz:lembra quando eu despedia de você porque ia para a igreja?
Rubi. diz:eu sabia que era uma questão de tempo.
charlie. diz:whwh
charlie. diz:sim, você me falou logo no começinho...
charlie. diz:de deus também.
charlie. diz:estou na fase que existindo ou não, pouco importa.
Rubi. diz:sim. para mim até hoje é assim.
Rubi. diz:porque a gente sabe que não muda.
charlie. diz:não muda.
Rubi. diz:e quando você falou do Leo...
Rubi. diz:é nesse momento que eu penso.
Rubi. diz:você pode criar essa muleta...
charlie. diz:eu fico triste vendo as pessoas tão sujeitas a isso, mãe. minha mãe aqui, meus irmãos... algumas pessoas próximas...
Rubi. diz:enquanto a cidade queima...
charlie. diz:acomodadas na idéia de deus.
Rubi. diz:os fiéis rezam fervorosamente e se deixam levar pelo fogo.
Rubi. diz:e as pessoas normais se salvam.
Rubi. diz:sim.
Rubi. diz:e sabe o que é pior?
Rubi. diz:não vão mudar.
Rubi. diz:é para raros.
Rubi. diz:os meus pais não vão mudar.
Rubi. diz:eu tenho A NÁUSEA quando a minha fala profere a palavra: deus.
Rubi. diz:"falta deus na sua vida"
Rubi. diz:hahahaha.
charlie. diz:hahaha
Rubi. diz:como se o tal do deus fosse me arranjar um trabalho.
Rubi. diz:e um namorado bem gostoso para eu foder dia e noite.
Rubi. diz:pelamor.
Rubi. diz:eu não mereço ouvir histórias de amiguinhos imaginários.
Rubi. diz:não tenho mais idade e nem paciência.
charlie. diz:daí temos a visão do homem só né? na sua colina, distante da multidão dos domingos.
charlie. diz:e essa idéia de "seleção" também me abobina.
Rubi. diz:o ser pensante.
Rubi. diz:não que eu me ache genial. longe disso.
Rubi. diz:mas eu tenho aquela perturbação.
charlie. diz:os homens nascem livres e separados por direito, pô!
Rubi. diz:há quem tenha e saiba seguir em frente, abrir caminhos...
charlie. diz:vêm ao mundo sós e, em todos os lugares estão em rebanho?
charlie. diz:não dá.
Rubi. diz:há quem tenha e se esconda.
Rubi. diz:hahahaha
Rubi. diz:o rebanho.
Rubi. diz:eu lembro do próprio Nietzsche falando em rebanho com o sentido mais pejorativo...
Rubi. diz:é coisa do homem fraco.
Rubi. diz:abrigar-se no rebanho.
Rubi. diz:seguir o rebanho.
Rubi. diz:não destoar do rebanho.
Rubi. diz:e falo em rebanho pensando no meu pai.
Rubi. diz:ele fala que eu tenho que aprender a ser como todo mundo.
Rubi. diz:como se isso fosse uma medalha e uma coroa de glória.
charlie. diz:minha liberdade é o greganismo deles. whwh
charlie. diz:o gosto pelo distanciamento e pela "fuga".
charlie. diz:o asco por pátrias, valores, religiões.
charlie. diz:o desafio, a ironia.
charlie. diz:a incredulidade social radical.
charlie. diz:a irresponsabilidade erigida em princípio.
charlie. diz:a arte de desagradar.
charlie. diz:o super-homem.
charlie. diz:=)
Rubi. diz:hahahaha
Rubi. diz:calma.
Rubi. diz:você precisa viver essa liberdade...
Rubi. diz:e compreender que você mesmo vai construir os próprios limites.
charlie. diz:responsavelmente né? não uma liberdade porra-louca.
Rubi. diz:mas aí eu falo de limites físicos, limites biológicos.
Rubi. diz:limites que você mesmo estabelecerá.
Rubi. diz:e não limites IMPOSTOS pela sociedade.
charlie. diz:e quer saber? super-homem ou não, prestigiado ou não, pouco importa.
Rubi. diz:é, responsavelmente no sentido de não se matar por aí.
Rubi. diz:de aproveitar até a última gota.
Rubi. diz:sabendo como pisar e onde pisar e até quando.
charlie. diz:sim.
charlie. diz:é bem isso.
charlie. diz:=~
Rubi. diz:quero calmantes.
charlie. diz:acho que já já vou me deitar.
charlie. diz:sou uma pessoa que preciso conhecer a última das solidões.
Rubi. diz:eu preciso conhecer o sono eterno.
charlie. diz:talvez seja isso, mãe.
charlie. diz:eu não sei o que é A Coisa, ainda.
charlie. diz:a última das solidões talvez seja o sono eterno.
charlie. diz:=~

segunda-feira, julho 17, 2006

4 de fevereiro.

Levei dois segundos para reconhecê-lo, mas o reconheci. Como o reconheci, eu não faço a menor idéia, talvez já trazia na memória como era o semblante, todas as definições. A postura era imóvel e rígida, toda feita de planos e ângulos, como uma estátua. Eu distraído, claro que não esperava. Olhei para o lado então o vi. Estava um pouco mudado, confesso. Maior em estatura, em definições humanas e masculinas, pêlos, músculos & face. Para além da fisionomia. O que poderia tê-lo modificado tanto? A vida, quem sabe. As paixões, projeções, as tentativas de amor, de comer, de escapas dos que exigem demais. Ele não tinha cara dos que estavam dispostos a ceder muito, sequer alguma coisa. Encerrava-se em si mesmo, era essa a impressão. De imediato, ao encontrá-lo, fui absorvido para o mais secreto Dele. E eu sei o quanto isso é perigoso, pois na realidade estarei lidando com o mais oculto em mim mesmo. Difícil. Permiti-me ser absorvido na esperança de aprender alguma coisa. Mas Ele demonstrava ser de um solo muito seco sem muitos vestígios e fósseis. Ah, mas logo encontrarei vestígios, porque, Ele não pode ser tão Ele mesmo. Ah, e foi no coração da cidade que o encontrei. Sentado em um banco, ou algo parecido. A perna direita inclinada sobre o banco, enquanto a esquerda era largada, suspensa, pelo ar mesmo. As duas mãos servindo de apoio para o corpo, quem sabe, cansado. Mas como o reconheci? Pelos olhos, talvez. Definitivamente eu não sei como soube que ali ele era Ele. Também não vou me retratar de nada. Talvez nem seja Ele. Pouco importa. Importa dizer que se tratava de um ser-vivo vivendo essa vida crepuscular que é como uma convalescença, se minhas lembranças são minhas, e que você saboreia perambulando por aí, depois do sol, sobre a superfície. Foi perambulando que o encontrei. O primeiro contato, aliás, foi perambulando pela minha vida online – sim porque posso me dar ao luxo de possuir duas vidas em uma única respiração. Mas não quero contar com essa justamente pela ausência do olhar, apesar da troca de palavras pelo meio que me permitia sentir-se vivo, então conto como primeiro encontro aquele mesmo da noite de fevereiro. Retomando então a narrativa do encontro, quando virei o rosto e o visualizei, ele me acenou com a mão e um sorrisinho retraído de canto de boca. Acenei com o dedo polegar querendo reafirmar com o gesto a minha virilidade masculina. Logo me encontrava em conflito. As pernas logo perderam a firmeza. Vieram o frio do suor & estômago, e me vi imerso no oceano do não-saber-o-que-dizer. Incrível como tudo de repente volta a rugir e tumultuar de novo. Estamos e nos encontramos perdidos em meio a cidades-satélites, lançados no caminho que precisamos engolir, açoitados pelas venturanças que é o viver, sempre nos perguntando se já não vivemos o suficiente, ou já mesmo não estamos mortos e não nos demos conta ainda – o que é pior -, se já não nascemos de novo... Como lidar com um outro é difícil. Enfim. Eu virei o rosto, então ele estava lá, talvez já me observando antes mesmo de eu ter ciência disso, talvez eu o tenha decepcionado com o meu andar “guenzo”, com os meus gestos intempestivos e sem pudor, com a minha alegria difícil, mas é uma alegria. Será se já o decepcionei antes mesmo de vê-lo? Muito possível, não é nada difícil, pelo contrário. Ele estava lá, com uma pose um tanto quanto espontânea, e se eu não visse que não existiam correntes, juraria pensar ele estar amarrado naquele bloco de mármore ou Deus sabe do que é constituído aquele material. A postura imóvel e rígida, o sorriso para dentro, o tempo, a distância que separava nossos corpos, o meu e o Dele, a distância para o deleite final, ou inicial, não-sei, o referencial era o que menos importava naquele momento. Ele estava de preto, se não me engano. Quanto à cor, pois a cor é um fator importante, eu prefiro negar a sua existência, tudo o que posso dizer era que predominava o preto. Das botas all-star ao pequeno fio de barba. Deveria simbolizar alguma coisa a escolha pelo preto. Poderia estar usando verde se a cor fosse mesmo sem importância, não? O preto seria uma espécie de luto? Seria a marca simbólica de uma vida na penumbra? Marcas de paixões? Ele tinha a cara de já ter sido marcado pelas paixões, pelas ações também, quem sabe, mas devia não mais sofrer e só estar usando o preto pela escolha sem culpa, sem responsabilidade de simbolizar nada: usou o preto por gostar e se identificar com o lado obtuso das cores, nenhuma razão há mais-além. Mas não sabia se estava sofrendo, em nada encontrava uma âncora para firmar terra no sim ou no não. Quanto ao diálogo produzido nesse primeiro momento não me recordo com precisão. Eu fiquei o tempo todo encostado no mármore enquanto ele continuava lá, com a perna direita firmada e a esquerda suspensa.; para maquiar o meu nervosismo acendi um cigarro, provando do meu pequeno veneno diário e rezando para que ele não percebesse o meu nervosismo. Três cliques e o cigarro acesso. Eu tenho dessas de rezar às vezes, quando me sinto encurralado. Não para algum deus, mas para mim mesmo, para que eu saiba lidar comigo mesmo. Para saber qual hora eu devo pedir licença e ir embora. Para saber qual hora ficar calado, ou falar menos, poucas palavras, o mínimo possível, reduzindo tudo a um balançar resignado de cabeça pelo sim, pelo não, pelo quem sabe. Aqui lembro que eu falei demais. Falei mais do que teria falado em uma semana, creio. Ele só confirmava com sorrisos e gestos positivos com a cabeça. Em nada nesse primeiro contato discordou de mim. Foi bem humano. Despedimo-nos com a promessa de um próximo encontro, para o dia posterior. Sentia-me aliviado e depois disso em um passo só, sem olhar pra trás, sem remorso e a uma pequena parcela de culpa: saí. Ele permaneceu lá sentado, agora as pernas cruzadas, no entanto ainda soltas no ar. Como algo que levita, enquanto eu me ligava ao solo cada vez mais Ele me dava a impressão de levitar. Depois fiquei pensando para qual direção teria ido o seu olhar. Será que me acompanhou até onde não pôde mais ver? Talvez tenha me acompanhado pelo espírito para o sempre, até hoje. E eu falo espírito para não me referir ao caráter corporal, porque essa coisa de corpo é para idiotas. Não, ele não deve ter me encarado. Deve sim ter encarado as pessoas numerosas pela rua com toda a longa noite diante delas. As portas fechadas das lojas vomitando o seu contingente. Então em casa eu concluí: ele vai acabar tropeçando em alguém que sofre com as mesmas necessidades. Então estará feliz. Dará alguns passos com este outro alguém, passos juntos, depois provavelmente se separarão, cada um se dizendo, talvez agora cada um se achando com direito a tudo. E quanto a mim, eu.

sábado, julho 08, 2006

típicos.

tem coisa mais irritante do que, no meio de um diálogo com qualquer sujeito, o dito-cujo vir com estória genérica de “as pessoas” – as pessoas não entendem. existe?! e uma outra que pergunta o nosso signo e faz uma cara enigmática de morango morfado? e a Dona Fulana na fila do mercado com vergonha de estar comprando apenas papel higiênico, mas sem o menor pudor absurdo de estar cantando Rebeldes? e a nova atendente da padaria, com aquele crachá mixuruca ilustrado com retrato 3x4 e o nome “Josenilda” ou “Cladeumira” querendo saber pela vigésima vez se o café é puro ou com leite? ai-ai, Fortaleza é droga pesada & gente, eu cada vez quero mais longe. Mais longe.
*
não consigo terminar o trabalho de metafísica. me falta inspiração. =~

segunda-feira, julho 03, 2006

diálogo a posteriori.

Como nascem as piadas filosóficas.
Minha frase era: Pressupostos ontológicos do modelo de convivência anarquista no paradigma emergente da ciência contemporânea.

Charlie. diz:
Marcelo, olha pra minha frase.
Marcelo diz:
hahahahahhahha
Charlie. diz:
se a gente trocar ciência, por futebol, aplica-se perfeitamente, né?
Marcelo diz:
até parece que tu entendeu! rsrsrs
Charlie. diz:
é!
Charlie. diz:
super metido!
Charlie. diz:
é coisa de quem estuda filosofia.
Charlie. diz:
a gente fica metido.
Charlie. diz:
já percebeu?
Charlie. diz:
hahaha
Marcelo diz:
hahahahaha
Marcelo diz:
é pq qd percebemos que ninguem entende o noss papo metafisico ontologico sobre a episteme dos raciocinios a posteriore aí ficamos assim
Charlie. diz:
hahaha
Charlie. diz:
meu sonho discutir essas coisas em Quixadá, com vocês.
Charlie. diz:
pra ver a cara das pessoas.
Marcelo diz:
hahahaha
Charlie. diz:
eu ia rachar o bico de rir.
Charlie. diz:
a gente falando mil coisas que nem a gente entende.
Marcelo diz:
todo mundo dopado falando isso! kkkkkkkkkk
Charlie. diz:
uma outra vertente da comunicação.
Charlie. diz:
não nos comunicamos para nos entendermos.
Charlie. diz:
nos comunicamos para complicarmo-nos.
Marcelo diz:
hehehhe
Charlie. diz:
=)
Marcelo diz:
isso é uma arte
Charlie. diz:
é.
Charlie. diz:
uma vertente da retórica!
Charlie. diz:
diga se não é!
Charlie. diz:
of course!
Charlie. diz:
e era o que o Parmênides fazia.
Charlie. diz:
certeza!
Marcelo diz:
yes
Charlie. diz:
e a gente tentando entender aqui...
Charlie. diz:
tenho certeza que nem ele sabe o que queria dizer.
Charlie. diz:
haha
Marcelo diz:
pq o ser do nao ser do diabo que o parta do ser é!
Marcelo diz:
e não pode deixar de ser!
Charlie. diz:
e não pode deixar de ser!
Charlie. diz:
meu deus!
Marcelo diz:
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Charlie. diz:
hahahaha
Charlie. diz:
espera!
Charlie. diz:
vou colar isso no blog!
Marcelo diz:
as piadas filosoficas estão fluindo!

quinta-feira, junho 29, 2006

Que o deus não há de levar os nossos homens.

Vou envelhecendo precocemente, preso na jaula do tempo, prisão em casca, idéia alguma, o corpo apodrecendo vivo, as mãos tremendo, a fumaça pelo ar da sala em penumbra, o teu olhar frio para as minhas cicatrizes, o teu risinho sarcástico para o meu padecimento, a minha cabeça prestes a explodir, aquela lembrança dos teus doces lábios, agora amargos, do vento frio até a espinha, o teu coração palpitando vindo até mim, carne a carne, pele a pele, pêlo a pêlo, formando um único corpo, e agora duas pedras, dois carvões, um longe do outro, cada qual com a suas marcas de vida, com as suas delícias, prazerzinhos ordinários corriqueiros, prelúdios da morte, sou o viver morrendo e tu não és mais capaz de me amar, tal qual fazias no passado, comias das minhas migalhas esparramadas por aí, colhias o alimento puro da minha boca, sorvias a minha doçura de mel, tecias a tua teia de areia insatisfeita. Agora tu me vomitas completamente e eu me esparramo pelo solo.
Por que estou assim, tão duro? Sabias que a verdade está escrita na parede? Textura de tinta velha, fendas, fissuras, os tijolos todos desmoronando em mim, e o poema pichado se desfazendo, aos poucos, tal qual o meu desejo de ainda estar vivo. A chuva fina borrou os traços de minha face, estou me tornando cada vez mais anônimo, cada vez pertenço menos. Vou me escondendo de ti e tu não tentas mais me encontrar.
Quando você falava, F, nas minhas costas - é claro -, acerca de bancar um "artista torturado", ou que suicídio seria aparecer demais, bem, o que não é aparecer? E se eu tivesse forças, já haveria arranjado uma belíssima morte para mim, sem muita dor, nem muito glamour, acho que morte tem que ter cara de morte mesmo, e quanto a ser um artista, acho que nem isso eu sei interpretar, o mundo está perdido, a roda gigante doida por aí, e eu mais doido ainda fora dela.
(suspiros)
(pânico)