sexta-feira, maio 19, 2006

Os Dragões Não Conhecem o Paraíso.

"(...) Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte. Dunas, geleiras, estepes. Nunca mais reflexos esverdeados pelos cantos, nem perfume de ervas pelo ar, nunca mais fumaças coloridas ou formas como serpentes espreitando pelas frestas de portas entreabertas. Mais triste: nunca mais nenhuma vontade de ser feliz dentro da gente, mesmo que essa felicidade nos deixe com o coração disparado, mãos úmidas, olhos brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa. A não ser o belo, que é de ver, não de mastigar, e por isso mesmo também uma forma de desconforto. No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pantanal de antes, cheio de possibilidades – que não aconteciam, mas que importa? – a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada."
(C.F.)

terça-feira, maio 16, 2006

Há um mundo melhor, porém caríssimo.

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50ml.
é foda. usando todos os dias.
quanto tempo será que dura isso?
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http://tratamento.sacks.com.br/site/produto.asp?id=525
a pele vira um diamante com esse.
as pessoas ricas gastam muito mesmo.
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http://tratamento.sacks.com.br/site/produto.asp?id=2559
olha isso!
as coisas vão ficando piores, meu deus!
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"Tratamento hidratante para o rosto muito rico, recomendado para peles sensíveis e muito secas. "
o rosto já tem que nascer rico. não é o meu caso.

doce ilusão.

(risos)

segunda-feira, maio 08, 2006

Sapatos de camurça.

Então chegará o dia em que me verei eternamente desligado de ti, então terás o direito de censurar-me por não ter te avisado quais eram os momentos decisivos em que sentia que ia fazer a teu respeito um desses juízos severos a que o amor não resiste por muito tempo, acaba sucumbindo. O que importa agora é deixar claro o quanto és uma criatura que se acha no último degrau do espírito, e mesmo do encanto, a desprezível criatura que não é capaz de renunciar a um prazer. Então, se fores isso, como será possível amar-te, pois não és mesmo uma pessoa, um ser definido, imperfeito, mas ao menos perfectível? És uma água informe que corre segundo a vertente que lhe oferecem, um peixe sem memória e sem reflexão que, enquanto viver só no aquário, se chocará cem vezes por dia contra o vidro, que continuará a julgar que é água.

domingo, maio 07, 2006

Carta anônima.

Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente mas penso tanto em você que na hora de dormir vezenquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos.

sábado, maio 06, 2006

Carta ao Zézim.

Porto, 22 de dezembro de 1979
Zézim,cheguei hoje de tardezinha da praia, fiquei lá uns cinco dias, completamente só (ótimo!), e encontrei tUa carta. Esses dias que tô aqui, dez, e já parece um mês, não paro de pensar em você. Tou preocupado, Zézim, e quero te falar disso. Fica quietO e ouve, ou lê, você deve estar cheio de vibrações adeliopradianas e, portantO, todo atento aos pequenos mistérios. É carta longa, vai te preparando, porque eu já me preparei por aqui com uma xícara de chá Mu, almofada sob a bunda e um maço de Galaxy, a decisão pseudo-inteligente.
Seguinte, das poucas linhas da tua carta, 12 frases terminam com ponto de interrogação. São, portanto, perguntas. Respondo a algumas. A solução, concordo, não está na temperança. Nunca esteve nem vai estar. Sempre achei que os dois tipos mais fascinantes de pessoas são as putas e os santos, e ambos são inteiramente destemperados, certo? Não há que abster-se: há que comer desse banquete. Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda”.
Mais: já pensei, sim, se Deus pifar. E pifará, pifará porque você diz ”Deus é minha última esperança". Zézim, eu te quero tanto, não me ache insuportavelmente pretensioso dizendo essas coisas, mas ocê parece cabeça-dura demais. Zézim, não há última esperança, a não ser a morte. Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tudo é maya / ilusão. Ou samsara / círculo vicioso.
Certo, eu li demais zen-budismo, eu fiz ioga demais, eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia, eu li demais Krishnamurti, sabia? E também Allan Watts, e D. T. Suzuki, e isso freqüentem ente parece um pouco ridículo às pessoas. Mas, dessas coisas, acho que tirei pra meu gasto pessoal pelo menos uma certa tranqüilidade.
Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tUdo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.
Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? DANEM-SE, demônios. Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.
Eu conheci razoavelmente bem Clarice Lispector. Ela era infelicíssima, Zézim. A primeira vez que conversamos eu chorei depois a noite inteira, porque ela inteirinha me doía, porque parecia se doer também, de tanta compreensão sangrada de tudo. Te falo nela porque Clarice, pra mim, é o que mais conheço de GRANDIOSO, literariamente falando. E morreu sozinha, sacaneada, desamada, incompreendida, com fama de "meio doida”. Porque se entregou completamente ao seu trabalho de criar. Mergulhou na sua própria trip e foi inventando caminhos, na maior solidão. Como Joyce. Como Kafka, louco e só lá em Praga. Como Van Gogh. Como Artaud. Ou Rimbaud.
É esse tipo de criador que você quer ser? Então entregue-se e pague o preço do pato. Que, freqüentemente, é muito caro. Ou você quer fazer uma coisa bem-feitinha pra ser lançada com salgadinhos e uísque suspeito numa tarde amena na CultUra, com todo mundo conhecido fazendo a maior festa? Eu acho que não. Eu conheci / conheço muita gente assim. E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.
Zézim, remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas mágoas, nos delírios mais alucinados, nas esperanças mais descabidas, na fantasia mais desgalopada, nas vontades mais homicidas, no mais aparentemente inconfessável, nas culpas mais terríveis, nos lirismos mais idiotas, na confusão mais generalizada, no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto. Sobretudo, não se angustie procurando-o: ele vem até você, quando você e ele estiverem prontos. Cada um tem seus processos, você precisa entender os seus. De repente, isso que parece ser uma dificuldade enorme pode estar sendo simplesmente o processo de gestação do sub ou do inconsciente.
E ler, ler é alimento de quem escreve. Várias vezes você me disse que não conseguia mais ler. Que não gostava mais de ler. Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer. Como é que é? Vai ficar com essa náusea seca a vida toda? E não fique esperando que alguém faça isso por você. Ocê sabe, na hora do porre brabo, não há nenhum dedo alheio disposto a entrar na garganta da gente.
Ou então vá fazer análise. Falo sério. Ou natação. Ou dança moderna. Ou macrobiótica radical. Qualquer coisa que te cuide da cabeça ou/ e do corpo e, ao mesmo tempo, te distraia dessa obsessão. Até que ela se resolva, no braço ou por si mesma, não importa. Só não quero te ver assim engasgado, meu amigo querido.
Pausa.
Quanto a mim, te falava desses dias na praia. Pois olha, acordava às seis, sete da manhã, ia pra praia, corria uns quatro quilômetros, fazia exercícios, lá pelas dez voltava, ia cozinhar meu arroz. Comia, descansava um pouco, depois sentava e escrevia. Ficava exausto. Fiquei exausto. Passei os dias falando sozinho, mergulhado num texto, consegui arrancá-lo. Era um farrapo que tinha me nascido em setembro, em Sampa. Aí nasceu, sem que eu planejasse. Estava pronto na minha cabeça. Chama-se Morangos mofados, vai levar uma epígrafe de Lennon & McCartney, tô aqui com a letra de Strawberry fields forever pra traduzir. Zézim, eu acho que tá tão bom. Fiquei completamente cego enquanto escrevia, a personagem (um publicitário, ex-hippie, que cisma que tem câncer na alma, ou uma lesão no cérebro provocada por excessos de drogas, em velhos carnavais, e o sintoma — real — é um persistente gosto de morangos mofados na boca) tomou o freio nos dentes e se recusou a morrer ou a enlouquecer no fim. Tem um fim lindo, positivo, alegre. Eu fiquei besta. O fim se meteu no texto e não admitiu que eu interferisse. Tão estranho. Às vezes penso que, quando escrevo, sou apenas um canal transmissor, digamos assim, entre duas coisas totalmente alheias a mim, não sei se você entende. Um canal transmissor com um certo poder, ou capacidade, seletivo, sei lá. Hoje pela manhã não fui à praia e dei o conto por concluído, já acho que na quarta versão. Mas vou deixá-lo dormir pelo menos um mês, aí releio — porque sempre posso estar enganado, e os meus olhos de agora serem incapazes de verem certas coisas.
Aí tomei notas, muitas notas, pra outras coisas. A cabeça ferve. Que bom, Zézim, que bom, a coisa não morreu, e é só isso que eu quero, vou pedir demissão de todos os empregos pela vida afora quando sentir que isso, a literatura, que é só o que tenho, estiver sendo ameaçada como estava, na Nova.
E li. Descobri que ADORO DALTON TREVISAN. Menino, fiquei dando gritos enquanto lia A faca no coração, tem uns contos incríveis, e tão absolutamente lapidados, reduzidos ao essencial cintilante, sobretudo um, chamado "Mulher em chamas". Li quase todo o Ivan Ângelo, também gosto muito, principalmente de O verdadeiro filho da puta, mas aí o conto-título começou a me dar sono e parei. Mas ele tem um texto, ah se tem. E como. Mas o melhor que li nesses dias não foi ficção. Foi um pequeno artigo de Nirlando Beirão na última IstoÉ (do dia 19 de dezembro, please, leia), chamado "O recomeço do sonho". Li várias vezes. Na primeira, chorei de pura emoção - porque ele reabilita todas as vivências que eu tive nesta década. Claro que ele fala de uma geração inteira, mas daí saquei, meu Deus, como sou típico, como sou estereótipo da minha geração. Termina com uma alegria total: reinstaurando o sonho. É lindo demais. É atrevido demais. É novo, sadio. Deu uma luz na minha cabeça, sabe quando a coisa te ilumina? Assim como se ele formulasse o que eu, confusamente, estava apenas tateando. Leia, me diga o que acha. Eu não me segurei e escrevi uma carta a ele dizendo isso. Não sou amigo dele, só conhecido, mas acho que a gente deve dizer.
Escrevendo, eu falo pra caralho, não é?
Aqui em casa tá bom. É sempre um grande astral, não adianta eu criticar. O astral ótimo deles independe da opinião que eu possa ter a respeito, não é fantástico? A casa tá meio em obras, Nair mandou construir uma espécie de jardim de inverno nos fundos, vai ligar com a sala. Hoje estava pUta porque o Felipe não vai mais fazer vestibular: foi reprovado novamente no 3º colegial. Minha irmã Cláudia ganhou uma Caloi 10 de Natal do noivo (Jorge, lembra?), e eu me apossei dela e hoje mesmo dei voltas incríveis pelo Menino Deus(?). Márcia tá bonita, mais adultinha, assim com um ar meio da Mila. Zaél cozinhando, hoje faz arroz com passas para o jantar.
Povos outros, nem vi. Soube que A comunidade está em cartaz ainda e tenho granas pra receber. Amanhã acho que vou lá.
Tô tão só, Zézim. Tão eu-eu-comigo, porque o meu eu com a família é meio de raspão. Tá bom assim, não tenho mais medo nenhum de nenhuma emoção ou fantasia minha, sabe como? Os dias de solidão total na praia foram principalmente sadios.
Ocê viu a Nova? Tá lá o seu Chico, tartamudeante, e uma foto muito engraçada de toda a redação — eu com cara de "não me comprometam, não tenho nada a ver com isso". Dê uma olhada. Falar nisso, Juan passou por aqui, eu tava na praia, falou com Nair por telefone, estava descendo de um ônibus e subindo noUtro. Deixou dito que volta dia três de janeiro ou fevereiro, Nair não lembra, pra ficar uns dias. Ficará? E nada acontecerá. Uma vez me disseram que eu jamais amaria dum jeito que "desse certo", caso contrário deixaria de escrever. Pode ser. Pequenas magias. Quando terminei Morangos mofados, escrevi embaixo, sem querer, "criação é coisa sagrada”. É mais ou menos o que diz o Chico no fim daquela matéria. É misterioso, sagrado, maravilhoso.
Zézim, me dê notícias, muitas, e rápido. Eu não pensei que ia sentir tanta falta docê. Não sei quanto tempo ainda fico, mas vou ficando. Quero escrever mais, voltar à praia, fazer os documentos todos. Até pensei: mais adiante, quando já estivesse chegando a hora de eu voltar, você não queria vir? A gente faria o mesmo esquema de novo, voltaríamos juntos. A família te ama perdidamente, hoje pintaram até uns salseirinhos rápidos porque todo mundo queria ler a matéria do Chico ao mesmo tempo.
Let me take you down
cause I’m going to strawberry fields
nothing is real, and nothing to get hung about
strawberry fields forever
strawberry fields forever
strawberry fields forever
Isso é o que te desejo na nova década. Zézim, vamos lá. Sem últimas esperanças. Temos esperanças novinhas em folha, todos os dias. E nenhuma, fora de viver cada vez mais plenamente, mais confortáveis dentro do que a gente, sem culpa, é. Let me take you: I’m going to strawberry fields.
Me conta da Adélia.E te cuida, por favor, te cuida bem. Qualquer poço mais escuro, disque 0512-33-41-97. Eu posso pelo menos ouvir. Não leve a mal alguma dureza dita. É porque te quero claro. Citando Arantes, pra terminar: "Eu quero te ver com saúde I sempre de bom humor I e de boa vontade".
Um beijo doCaio
PS — Abraço pro Nello. Pra Ana Matos, e Nino também.

sexta-feira, maio 05, 2006

A Lenda das Jaciras. (Psico-Antropologia Fake)

(por Caio Fernando Abreu)
Reza não muito antiga lenda que homossexuais masculinos de qualquer idade ou nação – além de bofe, bicha, tia ou denominação similar – dividem-se em quatro grupos distintos. Seriam na verdade, sempre segundo a lenda, quatro irmãos que atendem por nomes femininos. A saber, e essa ordem arbitrária não implica cronologia nem preferência: Jacira, Telma, Irma e Irene.
Para começo de conversa, vamos à mais popular delas: a Jacira. Suficientemente conhecida, seja pelo personagem Jaci (que no romance Onde Andará Dulce Veiga?, de minha autoria, em dias de arco-íris recebe uma Oxumaré de frente e transforma-se na devastadora Jacira) ou pelos louváveis esforços do jornalista Eduardo Logullo em divulgá-la através da coluna Joyce Pascowitch, na Folha de São Paulo.
Das quatro irmãs, Jacira é aquela que todo mundo sabe que é homossexual, e ela mesma – que refere-se a si própria, seja qual for seu nome, sempre no feminino – acha ótimo ser. A Jacira usa roupas e cores chamativas, fala alto em público, geralmente anda em grupos de amigos também jaciras como ela, todas exercendo o velho hábito de “fechar”. Como diria Antônio Bivar, é uma pintosa. Uma pintosa assumida, despudorada. Sempre foi bicha, adora ser bicha e, maniqueísta como ela só, continua achando que a humanidade divide-se entre bofes e bichas, categoria esta última na qual se inclui. Com orgulho. Superinformada, embora não leia muito (existem Jaciras nigrinhas,analfabetas), ela sempre sabe – de orelhada – tudo que está em cartaz na cidade. Fofocas que insinuam viperinas dubiedades sobre a sexualidade alheia. Ao entrar em qualquer ambiente, uma Jacira sempre é imediatamente notada. O que satisfaz seu principal objetivo na vida: aparecer.
Bem menos luminosa e sem graça que a Jacira é: a Telma. Seu nome provavelmente originou-se daquela versão que Ney Matogrosso cantava: “Telma eu não sou gay/ o que falam de mim são maldades”, algo assim. Ao contrário da Jacira, a Telma é infelicíssima. Ela bebe. Bebe para esquecer que poderia ser homossexual. O problema é que, exatamente quando bebe, mais exatamente ainda depois do terceiro ou quarto uísque, é que a Telma transforma-se em homo. Embriagada, Telma ataca. E dramaticamente na manhã seguinte não lembra de nada. Aquela Jane Fonda de The Morning After perde. Embora a Telma fique muito erotizada em estado etílico, ela sempre nega que é, e negará até a morte. A única solução para uma Telma empedernida seria a psicanálise (que ela, a mais doente, acha que não precisa) ou parar de beber. O que, por tabela, significaria também parar de trepar. Pobres Telmas – categoria da qual países como o Brasil (vide academias de ginástica, futebol, chopadas com o pessoal da repartição, etc.) está cheio.
Menos trágica, mas ainda mais complexa, é a terceira irmã: a Irma. As Irmas não são exatamente infelizes – pelo menos, não tanto quanto as Telmas --, embora bem menos felizes que as Jaciras – que aparentam ser e realmente são felicíssimas. Irma é aquela que todo mundo jura que é, incluindo a mãe, a irmã e a esposa (Irmas casam muito) – mas ela mesma não sabe que é. Não sabe ou finge que não. A Irma dá quase tanta pinta quanto a Jacira, adora todo o folclore gay, de Carmen Miranda a show de travesti, passando por concurso de miss, Mae West, leopardos, James Dean e Marilyn Monroe. Estranhamente não “faz”. Quando solteira ninguém de sexo algum poderá afirmar – muito menos provar – que já fez sexo com uma Irma. Ou se fez, não prestou muito, pois há quem diga que Irmas costumam ser mal-dotadas, impotentes, dessas assim. Pode ser. A verdade é, quando casadas, as esposas das Irmas raramente apresentam um ar satisfeito. Sexualmente satisfeito.
Irmas costumam ser afáveis – ao contrário das problemáticas Telmas, introvertidas e depressivas. Adoram Jaciras, apesar destas gostarem de chamá-las, sobretudo em público e aos gritos, de “queridaaaaaaaa”. É que toda Jacira sabe – ou supõe – que no fundo toda Irma é tão Jacira quanto ela. Mas como as Telmas, Irmas fogem de definições. E ao contrário das Telmas, muito pecadoras, podem até morrer sem se atreverem a provar os prazeres do – para citar uma Jacira clássica – amor que não ousa dizer seu próprio etc.
Inicialmente limitada a essas três, a lenda recentemente incluiu a existência de uma quarta irmã: a Irene. Tão assumida quanto a Jacira, ao contrário desta, a Irene não dá pinta. Ela é, sabe que é, mas não exibe nem constrange. Pode até usar brinquinho na orelha, dar alguma rabanada menos comedida, ou mesmo – de brincadeira – referir-se a si mesma ou uma amiga no feminino. Mas a Irene é tranqüila. Geralmente analisada, culta. Bom nível social, numa palavra – Irene parece serena em relação à própria sexualidade. Que é diversificada. Podem ter longos casos, morar junto, ou viverem certas idiossincrasias eróticas. Só gostarem de working class, por exemplo, ou de adolescentes, choferes de táxi ou estudantes de Física. Ou de Irenes como elas: são as Irenes lésbicas, bastante comuns e conhecidas, literalmente, como gays. Telmas e Irmas escondem tudo da família, vizinhos e colegas, embora a Irma não tenha nada a esconder. Jaciras não escondem coisa alguma, explicitérrimas. Irenes deixam no ar: se alguém perceber, que perceba. Educação é básico para elas. Serenamente educadas, pois, às vezes até casam. Com mulheres.
Entre as quatro, desgraçadamente as relações são turbulentas. Jaciras, por exemplo, adoram seduzir Telmas. Estas (quando sóbrias, claro) têm medo pânico de Jaciras. Irenes por sua vez, nutrem uma espécie de carinho apiedado pelas desventuradas Telmas – e isso pode até resultar numa ardente noite de paixão entre ambas. Da qual naturalmente a Telma jamais lembrará, embora tenha feito horrores. O grande risco que toda Irene corre é apaixonar-se por uma Telma: comerá o pão que o diabo amassou, até entrar noutra. Com a Irma, de quem Irene também gosta, o risco não é tão grave: Irenes sabem que com Irmas não rola. E pode assim transformar tudo numa aparentemente saudável “amizade viril”: as duas fingindo, para usar a terminologia antiga, que são bofes. Há quem creia. Jaciras não simpatizam muito com Irenes, acham-nas “metidas”. A recíproca também é verdadeira: Irenes acham Jaciras pintosas demais, apesar de divertidas, folclóricas. E inconvenientes. E com a imperdoável mania de roubar namorados alheios. Irenes adoram namorar, pegar na mão, ir ao cinema, comer pizza, fim de semana em Ilhabela, ver TV – tudo isso together. Já Telmas e Irenes, entre si, são hostis. Talvez uma tema o julgamento da outra, vai saber. Irmas, no entanto, podem ceder aos insistentes encantos das Jaciras. Existem mesmo certas Irmas que algumas Jaciras – para ódio das Irenes – juram já ter feito. Jaciras, por sua vez, não raramente invejam Irenes, que sempre aparentam certa prosperidade (ao contrário das Telmas), com um cotêzinho decadente). Irenes mais neuróticas gostariam, de vez em quando, de serem confundidas com Irmas. E Telmas costumam sentir cegos, súbitos impulsos de desvendar suas almas abissais para os ouvidos compreensivos e ombros amigos das Irenes. Na verdade, Telmas, Irenes e Jaciras invejam um pouco aquela impressão (nem sempre verdadeira) de pureza que toda Irma passa. Assim como se estivesse por fora de qualquer grupo de risco.
A propósito, já que abordamos esse desagradável tema: embora aparentem ser as mais perigosas, no que se refere a riscos, e apesar de promíscuas (a promiscuidade esta implícita na jacirice). Jaciras cuidam-se muito. Verdade que com camisinhas nacionais, daquelas que arrebentam na hora H, na primeira golfada.
Irenes sempre carregam na frasqueira sortido estoque de poderosas camisinhas estrangeiras, compradas em suas viagens. Com a idade se tornam um tanto maníacas com higiene, meio obcecadas com safe sex. Certas Irenes não fazem há anos, vivem em permanente estado de nervos.
Já as Irmas como não fazem, ou quando fazem é tão escondido que ninguém sabe dizer como fazem, não se preocupam com isso.
O problema, novamente, são as Telmas. Impulsivas e atormentadas, nunca estão prevenidas. Jamais podem prever quando passarão do quarto uísque ou da décima quinta cerveja, e isso normalmente acontece em horas que as farmácias estão fechadas. Telmas, portanto, não carregam camisinha. Sequer as têm no banheiro, tamanha a negação. Enlouquecidas na cama (uma Telma com tesão vale por cem Jaciras), Telmas fazem coisas que Madonna (ídolo das Jaciras) duvidaria. Essa representa outra secreta tortura mental das Telmas: como às vezes realmente não lembram do que fizeram (por lapso etílico), têm sempre rabo preso e um medonho medo de serem positivas.
Irmas sempre são negativas. Ou aparentam ser. Acontecem surpresas, pois ser Irma não significa necessariamente ser casta. Irenes via de regra lidam bem com um teste positivo: espiritualizam-se, viram vegetarianas, zen-budistas, fazem ioga, procuram o Santo Daime ou Thomas Green Morton. Lêem muito Louise Hay, e até se recusam a tomar AZT. Jaciras muitas vezes negam-se decididamente a fazer O Teste: têm uma certeza irracional de que daria positivo. O que nem sempre é verdade, visto que nada mais forte que santo de Jacira.
Vírus e suas saias-justas sem nesga à parte, na verdade a AIDS não mudou muito o comportamento das quatro. Elas são arquetípicas, atávicas, eternas.
Freud, por exemplo, na opinião geral era irmésima. Já Platão parece ter sido uma boa Irene. Ninguém colocaria em dúvida a jacirice de Oscar Wilde. Rimbaud, por sua vez, dá a impressão de ter começado como Jacira (quando chegou a Paris) para transformar-se – o que é raro – em Telma ( na Abissínia). Já Verlaine, teria sido uma Irma que se ajacirou.
Clássicas ou contemporâneas, nenhuma delas deve ser criticada por isso. À sua maneira, cada uma busca apenas essa coisa – o Amor: a Ancestral Sede Antropológica. O que pode acontecer (vide Rimbaud e Verlaine) são transmutações: Irenes que se ajaciram; Irmas (com tendência etílica) que viram Telmas; Telmas que – bem comidas – se irenizam ou mesmo ajaciram e etc. As mutações são tantas quanto as do I Ching. Há quem diga que essas novas têm até nome, como as Juremas (Jaciras que se tornam Irenes) ou Jandiras (Jaciras exacerbadas tipo Clóvis Bornay). Pode ser. Mas segundo nossos estudos, Jacira que é Jacira nasce Jacira, vive Jacira, morre Jacira. No fundo, achando o tempo todo que Telmas, Irmas e Irenes não passam de Jaciras tão loucas quanto elas. E talvez tenham razão.

quarta-feira, maio 03, 2006

2+2=5.

prova concreta de que o radiohead não erra. inclusive na matemática.
*medo*

*
Começamos com a seguinte igualdade, que é verdadeira: 16-36 = 25-45.
Somamos (81/4) nos dois lados, o que não altera a igualdade: 16-36+(81/4) = 25-45+(81/4).
Isso pode ser escrito da seguinte forma: (trinômio quadrado perfeito) (4-(9/2))2 = (5-(9/2))2. Tirando a raiz quadrada em ambos os lados temos: 4-(9/2) = 5-(9/2).
Somando (9/2) nos dois lados da igualdade temos: 4 = 5 .
Como 4=2+2 chegamos a seguinte conclusão: 2+2=5.

segunda-feira, maio 01, 2006

utilidade pública/pessoal.

Para clarear os dentes:
Escove com bicarbonato de sódio ( comprado na farmácia ) ou água oxigenada 10 volumes ( aquela para fazer curativo )
Você também pode amassar um morango e esfregar os dentes com este morango amassado.
Mas atenção, não o use seguidamente, pois gasta o esmalte dos dentes.
Faça 1 vez por mês.
Folhas de Goiabeira ou Sálvia – mastigue folhas de goiabeira ou de Sálvia ou esfregue-as diretamente nos dentes.
Bicarbonato de sódio – umedeça o bicarbonato com gotas de água. Depois, com um algodão ou com o dedo, esfregue-o nos dentes a noite após a última escovada. Não coma e nem lave a boca até o dia seguinte.
Para quem tem os dentes amarelados por nicotina – retire a parte mais espessa do leite de magnésia do frasco.
Esfregue nos dentes com o dedo ou algodão à noite quando for se deitar, após escovar os dentes. Não coma e nem lave mais os dentes até a manhã seguinte.
*
(risos)

domingo, abril 30, 2006

Não é nada.

Olha, pode ser até normal ficarmos perdidos quando nos deparamos com o mar de possibilidades que possuímos nisso que é a respiração-diária-necessária. Mas olha, nessas horas não é necessário que busque refúgio no desespero, na incerteza, insegurança e todas essas outras coisas. Não estou falando que isso não é importante, até é, visto em uma perspectiva, mas o que eu queria dizer era que ainda é possível fazer dessa existência algo que possa ser usado por aqui mesmo, ao teu próprio benefício. É difícil, mas não pense que para alguém é fácil, não é.
*
Certeza que não viria, que não me entregaria sua mão, que não era capaz que quebrar as mil portas que nos separam, que viria ao meu auxílio e me socorreria e tentava me demonstrar que também não sabe o caminho, mas que está aí, é o que nos resta não é?
*
Uma vez imaginei um velhinho, quais seriam suas perspectivas. O esquema de hoje é pensar nas probabilidades. Mas pouco, não pode pensar nisso muito senão enlouquece. Eu falo por experiência própria.
*
Não. Não. Não. Não. Não. Não. Não.

domingo, abril 09, 2006

Saudade.

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
(C.L.)

quarta-feira, março 29, 2006

(risos)

charlie diz:
Bel! a Raisa nem vai para Quixadá na semana santa.
charlie diz:
ela é muito chata né? =
Belchior diz:
é
Belchior diz:
muito
charlie diz:
é, agora só quer ser uma mulher do século XXI.
charlie diz:
freqüenta a academia e tudo o mais... whwh
Belchior diz:
Quem diria...!
*
(risos)

sábado, março 25, 2006

'Natureza Viva' C.F.A.


"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não consegurás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele(...)"

estatísticas.

* 70% dos suicídios ocorrem em decorrência de uma fase depressiva.
* Pessoas mais velhas se suicidam mais que as mais jovens.
* Quanto mais planejado, mais perigoso no sentido de haver novas tentativas, caso essa não dê certo.
* Tentativas em homens são quase sempre mais graves, mais brutais e mais bem sucedidas do que em mulheres.
* Qualquer distúrbio Neuropsiquiátrico mais Álcool aumenta o risco de suicídio.
* Qualquer distúrbio (Depressão, Ansiedade, Psicose, etc.) mais os seguintes fatores aumentam o risco: isolamento social, falta de amigos, não ser casado, não morar com uma outra pessoa, não ter filhos, não ser religioso.
* O provérbio "cão que ladra não morde" não existe em suicídio. Pelo contrário, 90% de quem tenta, avisou antes.
* Quem fez uma tentativa tem 30% a mais de chances de repetir do quem nunca tentou.
* Nos casos de Psicoses agudas com pensamentos suicidas, ou Depressões Delirantes com idéias de suicídio, caso não seja possível hospitalizar o paciente, se o medico disser que o Acompanhante tem que vigiar todo o tempo, isso quer dizer até mesmo quando estiver no banheiro. Quer dizer janelas trancadas, quer dizer todas as armas, venenos, comprimidos, facas, garfos, fios, etc. fora do alcance. Quer dizer que o Acompanhante tem que ser fisicamente mais forte que o paciente e quer dizer que se o Acompanhante tiver que ir ele mesmo ao banheiro, primeiro tem que chamar um substituto igualmente ágil e forte.Muitos jovens já perderam a vida numa distração de segundos do Acompanhante. A grande maioria desses jovens poderia estar viva, pois o tratamento desses quadros agudos traz resultados logo nos primeiros dias.

segunda-feira, março 20, 2006

swann.

devo dizer. ontem me tornei lenda viva das provas da cultura na ufc. por qual motivo? pergunte-me. tanta vergonha, tanto vexame que sequer coragem de escrever aqui o ocorrido eu tenho. foi engraçado, mas depois eu fiquei em graça. depois. quando estamos sozinhos com a nossa consciência.
*
ah, estou nas últimas 100 páginas do último volume de "em busca do tempo perdido" do proust. está tão difícil as últimas páginas... ele se desfazendo das personagens que acompanhamos desde a infância. saudades da vovó, do swann, de todos. aliás, charles swann foi um dos que eu mais gostei. eu chorei com o swann. e não pude deixar de rir quando ele disse que a odette nem se quer fazia o seu tipo. foi apaixonado por ela a vida toda... proust diz que essas mesmas são as mulheres perigosas - as que não fazem o nosso tipo. porque cria-se um vínculo sem medo e por costume... mas um vínculo praticamente eterno que e se encerra quando se tem o amor por inteiro.
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aliás, o amor só funciona quando não se tem o objeto amado por inteiro.
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"Nada se compara à exaltação do melancólico crônico quando vem a alegria. Mas, antes de ter licença para chegar, a alegria deve fazer o cerco ao coração cansado. Me deixe entrar, ela geme, ela berra. O coração tem que ser forçado."- Susan Sontag

sexta-feira, março 17, 2006

Hulck, o cão obtuso. uma frustação. uma certeza.

Então eu chegava em casa e ele vinha me receber. Era um ritual diário sagrado, uma doação diária, mútua, entre o cão - de nome Hulck -, e eu. Nos entregávamos, nos doávamos como mãos se dão. Eu, que não tivera filhos e muito menos pessoas ao redor, só tinha o cão, enquanto ele que nunca se interessava por uma cadelinha de rua, só tinha a mim e nossa relação era de amor.Chegava de madrugada em casa, ele a minha espera, eu, ansioso por encontrá-lo, prendia-o na coleirinha então passeávamos, eu mostrava objetos, odores, flores, luas, poças de água, e ele me mostrava o quão bonito são os pequenos gestos diários que passa despercebido enquanto achamos que vivemos. doce ilusão, e o Hulck sabia bem o que isso significava. Nunca me abandonou. Era ele quem vinha ao meu encontro enquanto derramava o meu "Mar de Alice", enquanto ouvia canções ou via algum seriado americano bobo que adorava. Ou mesmo um filme, um gesto, uma poesia... Era o Hulck quem vinha ao meu auxílio e me tranquilizava com um olhar suave e sereno, como quem me entendia - e ele me entendia -, como quem sabe que dar-se às circustância é perigoso, que estar por fora da grande roda gigante também é perigoso. o Hulck sabia disso.Foi então que veio a doença, e o corpo fragilizado do meu amigo. Tentei remédio, leite, orações - sim, eu rezei, rezei para quer qualquer entidade superior salvasse meu filhote. E nada, ele até melhorava, mas não o suficiente...
*
Ah, perdão. Não consigo terminar... =~ O final todos sabem, o cachorro veio a falecer. E sabe o mais incrível de tudo isso? Eu sentir tudo como se fosse comigo. Tenho dessas de fazer as dores dos outros sentimentos bem meus. Como é possível?
*
E a Bíblia para o ponto final:
O amor é tão poderoso como a morte; e a paixão é tão forte como a sepultura. O amor e a paixão explodem em chamas e queimam como fogo furioso. Nenhuma quantidade de água pode apagar o amor, e nenhum rio pode afogá-lo. Se alguém quisesse comprar o amor e por ele oferecesse as suas riquezas, receberia somente o desprezo. (C.C., Bíblia)

sexta-feira, março 10, 2006

teste.

eu no mais profundo ócio, encarando a internet com uma dificuldade absurda, estando aqui com a cabeça ali, encontro esses testes que eu acho uma beleza de fazer. claro que é pura falta do que fazer, mas fazer o quê se você já faz parte do poço do poço.
*




Que m�sica do los hermanos � voc�?
Trazido a voc� por Soul Fire

quinta-feira, março 09, 2006

um acidente.


uma pista, um veículo importado e um pobre animal de má sorte. foi então que o carro desgovernado cortou a avenida como um rastro de luz. e foi então que eu vi o probe animal naquele piso escuro de cidade grande. e foi então que fui tomado por um amor incondicional, e a única vontade era colocar o pobre animal nos braços e levar comigo, e tentar curá-lo de qualquer maneira. mas não foi possível. em segundinhos o pobre animal respirava o último suspiro. e agora, nesse instante, já, não consigo esquecer e cena.
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sabe que preciso arrumar um emprego? que aqui em casa não dá para viver mais sem trabalhar. esses anos passando e eu consequentemente ficando mais velho, vou ter que arrumar um trabalho senão sequer dinheiro para umas bisnaguinhas golden boys vou ter. pequenos prazeres que me dou ao luxo de vez em quando.
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e sim, eu quero voltar para o interior. é o meus mais secreto segredo. pelo menos era. ou não. ou sim. ou não. ou sim. ou não. ou sim...
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estou vendo se dá certo esse negócio de escrever com uma imagemzinha ilustrando. vi no blog de uma amiga e achei tão bonito. queria que ficasse bonito aqui também. embelezar minhas cela. mais ou menos isso.
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respirar sem estar devendo ao mundo esta pequena liberdade.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

60'.

só pode ser algo incerto mesmo para assegurar-me. para fazer com que eu pense: sim, as coisas vão passar como tudo passa nessa vida, não, esqueça, esqueça que o futuro não te reserva muitas expectativas. eu abri agora o bloco de notas - sim, porque o word consegue me irritar de tal maneira que só há tolerância quando estou a digitar as milhares de folhas dos trabalhos acadêmicos -, pensava em escrever com um eu lírico feminino. iria fabular uma historinha povoada na década de 60, onde uma jovem senhorita espera o senhorito na janela no lar.mas fica para outro dia. é bobinha mesmo, não espero muito dela.
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ah, nossa. a conexão necessária provém de onde mesmo? do hábito?
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hábito do inferno, viu.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

negação.

me nego. definitivamente me nego a ser mero instrumento de utilidade única para diversão. lógico que ninguém usa ninguém desta maneira, quer dizer, não alguém que ao menos sente pelo outro o mínimo de respeito possível. parece-me que gostas mesmo de ver restinhos de mim espalhados pelo chão, parece que é necessário que eu pene para que você respire aliviado denotando missão cumprida. e vai saber o que eu fiz para merecer as costas quando o que ofereço é amor. e você nem ninguém tem moral para dizer que isso não é amor, pode parecer que não mas sei sim o que isto significa. você foi um dos primeiros que me deu o exemplo que a verdade não precisa necessariamente ser dita para ser manifestada, podemos talvez colhê-la mais seguramente sem esperar tanto pelas palavras ou até mesmo sem levá-las em conta, em mil sinais exteriores. mas enquanto isso eu prossigo seco e em pé com as veias gritando, mesmo.
ah, que chatice. parece aqueles diarinhos de adolescente cagão.
raiva, viu.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

sim, basicamente isso.

(...) sei que ele me quer. elogio-o demasiadamente, é verdade. sinto um estranho prazer em dizer-lhe coisas de que me arrependerei depois. geralmente, ele é muito gentil para comigo, e ficamos sempre falando de mil coisas. de vez em quando, porém, mostra-se horrivelmente irritadiço, parecendo sentir um verdadeiro prazer em magoar-me. nesses momentos, sinto que dei toda a minha alma a uma criatura que a trata como uma flor que se põe na lapela, como uma condecoração que seduz a sua vaidade, como o ornamento de um dia de verão.
(...)