Eu não vou mudar não.
Eu vou ficar são.
Mesmo se for só.
Não vou ceder.
Deus vai dar aval sim.
O mal vai ter fim.
E no final assim calado eu sei.
Que vou ser coroado rei
de mim.
domingo, novembro 28, 2004
sábado, novembro 27, 2004
II
Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabe que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
É a eternidade.
És tu.
(Cecília Meireles)
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabe que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
É a eternidade.
És tu.
(Cecília Meireles)
sábado, novembro 20, 2004
a chuva.
vou recomeçar.
como se fosse uma continuação.
como seu eu houvesse persistido toda a minha vida.
esta manhã nublada não me mete medo.
não mais.
podem dizer a todo mundo que eu aceito.
não é preciso subir nem descer.
basta que eu fique aqui nesse momento.
aqui.
agora.
olhando através das vidraças.
a água que começa a correr.
como se fosse uma continuação.
como seu eu houvesse persistido toda a minha vida.
esta manhã nublada não me mete medo.
não mais.
podem dizer a todo mundo que eu aceito.
não é preciso subir nem descer.
basta que eu fique aqui nesse momento.
aqui.
agora.
olhando através das vidraças.
a água que começa a correr.
quinta-feira, novembro 18, 2004
De profundis.
"Deus meu eu vos espero, deus vinde a mim, deus, brotai no meu peito, eu não sou nada e a deesgraça cai sobre minha cabeça e eu só sei usar palavras e as palavras são mentirosas e eu continuo a sofrer, afinal o fio sobre a parede escura, deus vinde a mim e não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas e deus por que não existes dentro de mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e eu te espero todos os dias e todas as noites, ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer e apenas assisto o meu esgotamento em cada minuto que passa, sou só no mundo, quem me quer não me conhece, quem me conhece me teme e eu sou tão pequeno e pobre, não saberei que existi daqui a poucos anos, o que me resta para viver é pouco e o que me resta para viver no entanto continuará intocado e inútil, por que não te apiedas de mim? que não sou nada, dai-me o que preciso, deus, dai-me o que preciso e não sei o que seja, minha desolação é funda como um poço e eu não me engano diante de mim e das pessoas, vinde a mim na desgraça e a desgraça é hoje, a desgraça sempre, beijo teus pés e o pó dos teus pés, quero me dissolver em lágrimas, das profundezas clamos por vós, vinde ao meu auxílio que eu não tenho pecados, das profundezas clamos por vós e nada responde e meu desespero é seco como as areias do deserto e minha perplexidade me sufoca, humilha-me, deus, esse orgulho de viver me amordaça, eu não sou nada, das profundezas clamos por vós, das profundezas clamos por vós das profundezas clamos por vós das profundezas clamos por vós."
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das profundezas a entrega final. o fim...
segunda-feira, novembro 15, 2004
luv.
ainda que eu falasse línguas, dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso. ainda que tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transpor montanhas, se não tivesse o amor eu não seria nada. ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse o amor, nada isso me adiantaria. o amor é paciente, prestativo. não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. o amor jamais passará. o amor é a fonte de qualquer comportamento verdadeiramente humano, pois leva a pessoa discenir as situações e a criar gestos oportunos capazes de responder adequadamente aos problemas do dia-a-dia.
palavras.
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a vida nos engana com sombras. pedimos o prazer e ela nos dá dor, amargura e desilução. aí, nos achamos com um coração de pedra, desejando o ouro pelo qual uma vez tanto ansiamos. neste mundo só existem duas tragédias: uma, é não se obter o que se quer. e a outra é obter.
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a vida nos engana com sombras. pedimos o prazer e ela nos dá dor, amargura e desilução. aí, nos achamos com um coração de pedra, desejando o ouro pelo qual uma vez tanto ansiamos. neste mundo só existem duas tragédias: uma, é não se obter o que se quer. e a outra é obter.
palavras.
domingo, novembro 14, 2004
C.F.A.
"Andei pensando em Adele H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me amar: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida".
Extremos da Paixão / Pequenas Epifanias
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e acabou de ser quebrada mais uma das milhares de milhões das promessas vazias que é constante. constante.
sábado, novembro 06, 2004
fragmento II.
"Aos poucos habituou-se ao novo estado, acostumou-se a respirar, a viver. Aos poucos foi envelhecendo dentro de si, abrir os olhos e novamente era uma estátua, não mais plástica, porém definida. Bem longe renascia a inquietação. À noite, entre os lençois, um movimento qualquer ou um pensamento inesperado acordava-a para si mesma. Levemente surpreendida dilatava os olhos, percebia seu corpo mergulhado na confortável felicidade. Não sofria, mas onde estava? - Joana... Joana... - Chamava-se ela docemente. E seu corpo mal respondia devagar, baixinho: Joana. Os dias foram correndo e ela desejava achar-se mais. Chamava-se agora fortemente e não lhe bastava respirar. A felicidade apagava-a, apagava-a... Já queria sentir-se de novo, mesmo com dor. Mas submergia cada vez mais. Amanhã, adiava, amanhã vou-me ver. Um novo dia porém perpassava pela sua superfície, leve como uma tarde de estio, mal franzindo seus nervos. Só não se habituara a dormir. Dormir era cada noite uma aventura, cair da claridade fácil em que vivia para o mesmo mistério, sombrio e fresco, atravessar a escuridão. Morrer e renascer."
(Perto do coração selvagem - C.L.)
(Perto do coração selvagem - C.L.)
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até quando meu deus? até quando minha vida será um recortar e colar? até quando?
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eu acho que isto está chegando ao fim. acho não. certeza. foi expelido precocemente.
quinta-feira, novembro 04, 2004
fragmento.
"Muitos anos de sua existência gastou-os à janela, olhando as coisas que passavam e as paradas. Mas na verdade não enxergava tanto quanto ouvia dentro de si a vida. Fascinava-a o seu ruído - como o da respiração de uma criança tenra -, o seu brilho doce - como o de uma planta recém-nascida. Ainda não se cansara de existir e bastava-se tanto que ás vezes, de grande felicidade, sentia a tristeza cobri-la como a sombra de um manto, deixando-a fresca e silenciosa como um entardecer. Ela nada esperava. Ela era em si, o próprio fim.Uma vez dividiu-se, inquietou-se, passou a sair e a procurar-se. Foi a lugares onde se encontravam homens e mulheres. Todos disseram: felizmente despertou, a vida é curta, precisa-se aproveitar, antes ela era apagada, agora é que é gente. Ninguém sabia que ela estava sendo infeliz a ponto de precisar buscar a vida. Foi então que escolheu um homem, amou-o e o amor veio adensar-lhe o sangue e o mistério.
(...)
Juntou todos os seus pedaços e não procurou mais as pessoas. Reencontrou a janela onde se instalava em companhia de si mesma. E agora, mais do que sempre, nunca se vira uma coisa ou uma criatura mais feliz e mais completa. Apesar de muitos a olharem com complacência, achando-a fraca.
(...)
Nada do que lhe diziam importava, assim como os acontecimentos, e tudo deslizava sobre ela e ia perder-se em água outras que não as interiores."
"Perto do Coração Selvagem - C.L."
"Perto do Coração Selvagem - C.L."
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