sábado, novembro 06, 2004

fragmento II.

"Aos poucos habituou-se ao novo estado, acostumou-se a respirar, a viver. Aos poucos foi envelhecendo dentro de si, abrir os olhos e novamente era uma estátua, não mais plástica, porém definida. Bem longe renascia a inquietação. À noite, entre os lençois, um movimento qualquer ou um pensamento inesperado acordava-a para si mesma. Levemente surpreendida dilatava os olhos, percebia seu corpo mergulhado na confortável felicidade. Não sofria, mas onde estava? - Joana... Joana... - Chamava-se ela docemente. E seu corpo mal respondia devagar, baixinho: Joana. Os dias foram correndo e ela desejava achar-se mais. Chamava-se agora fortemente e não lhe bastava respirar. A felicidade apagava-a, apagava-a... Já queria sentir-se de novo, mesmo com dor. Mas submergia cada vez mais. Amanhã, adiava, amanhã vou-me ver. Um novo dia porém perpassava pela sua superfície, leve como uma tarde de estio, mal franzindo seus nervos. Só não se habituara a dormir. Dormir era cada noite uma aventura, cair da claridade fácil em que vivia para o mesmo mistério, sombrio e fresco, atravessar a escuridão. Morrer e renascer."
(Perto do coração selvagem - C.L.)
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até quando meu deus? até quando minha vida será um recortar e colar? até quando?
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eu acho que isto está chegando ao fim. acho não. certeza. foi expelido precocemente.

Um comentário:

charlie disse...

ah. ela tenta mas não consegue. um dia ela conseguirá. agora está fragilizada. é um pássaro com asa ferida.